Férias de julho pedem atenção à educação no trânsito

Enviado por Fernanda Martins em Qui, 20/07/2023 - 11:09

 

O mês de julho é marcado pelo período em que uma parcela da população aproveita para viajar e desfrutar as férias escolares. Seja qual for o destino, a recomendação é a mesma: prudência no trânsito. Campanhas são feitas anualmente pelos órgãos fiscalizadores e buscam conscientizar motoristas e pedestres. Entretanto, uma outra solução é proposta por diversos profissionais e pesquisadores: a inclusão da Educação para o trânsito nas escolas. Este seria o melhor ambiente e a melhor fase da vida para trabalhar questões éticas, desenvolver atitudes que podem salvar vidas e cooperar para a difusão de conhecimentos. 

Conforme explica a professora Diana Lemes, doutora em Educação e coordenadora do Projeto de Extensão Pedagogia em Movimento: educação para o trânsito, “o tema é um problema social que deve estar na ordem do dia nos debates sobre respeito à vida, direitos humanos, educação, segurança, saúde, mobilidade urbana. É um tema transversal e interdisciplinar”. 

O projeto que Diana coordena faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagogia em Movimento (Geppem), do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Institucionalizado em 2017, emergiu a partir de vivências de estágio supervisionado em eventos não escolares no Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran-PA), por alunos do 7° semestre do Curso de Pedagogia. 

Transitando pela educação

A Uepa busca elaborar a formação de discentes de pedagogia acerca da educação para o trânsito e, na sequência, aplicar o projeto em algumas escolas. As oficinas são ministradas pela pedagoga do Detran, integrante do Geppem e do projeto, Elisabeth Carvalho, e pela professora Diana. Código Brasileiro de Trânsito; Educação Para o Trânsito; Comportamento Humano e o Trânsito; Plano Nacional da Década de Redução de Sinistros de Trânsito; Políticas Públicas; Planejamento e Avaliação; e Transversalidade do Tema Trânsito abrangem os conteúdos trabalhados pelas docentes, em parceria com o Detran.  
 

Após esse processo, os alunos estão aptos a desenvolver as atividades nas escolas. Dessa forma, organizam projetos de oficinas pedagógicas, com tópicos voltados a crianças da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Os trabalhos de planejamento, execução, avaliação e socialização das práticas são supervisionados pelas professoras, e as ações são realizadas em escolas parceiras do projeto ou quando há solicitações. 
 

As oficinas são desempenhadas de forma lúdica, com teatro de fantoches, contação de histórias, maquetes, jogos educativos, musicalidade, paródias. Desde a sua criação, já instruíram mais de 15 escolas; atenderam mais de 3.000 crianças; e mais de 50 professores da educação básica e 30 alunos do Curso de Pedagogia da Uepa.

Respeito à vida

Como cidadãos mirins, crianças gostam de multiplicar o que aprendem no ciclo de amizades, na família, na rua ou no bairro, segundo Diana. “Elas aprendem de forma lúdica e multiplicam a aprendizagem de forma muito espontânea. E a faixa etária que atendemos favorece o trabalho, porque são curiosas, aprendem com facilidade e socializam de forma muito natural e espontânea”, afirma. Fundamentado nessa perspectiva de educar os sujeitos ainda na infância, a professora sinaliza outra mudança que o projeto viabiliza: “Trabalhando com crianças, trabalhamos adultos de forma direta ou indireta. Além de que teremos crianças e adultos com atitudes mais seguras no trânsito, seja no papel de pedestre, passageiro ou condutor”. Assim, esses cuidados também auxiliam na prevenção dos Sinistros de Trânsito – nova nomenclatura adotada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, para designar a ocorrência de atos lesivos a veículos, seres humanos e animais. 

Mas, não para por aí. Diana ressalta que a temática é uma questão de saúde pública e requer comprometimento de toda a sociedade, com mais ações coletivas, e não apenas em feriados e veraneio. Também defende um trabalho de forma sistemática e contínua nas escolas, nas comunidades, ruas, com campanhas e atividades educativas. “Além de trabalharmos seriamente com educação para o trânsito, os governantes precisam garantir o direito do cidadão ter acesso a vias bem sinalizadas, a uma engenharia de tráfego adequada para a construção de um trânsito seguro e humanizado”, conclui. 
 

Pautada em um trabalho que aponta as atitudes e decisões como cautela aos sinistros de trânsito, o respeito à vida é um dos alicerces que devem ancorar a construção de conhecimentos sobre educação para o trânsito, conforme avalia a docente.  “Quando se respeita a vida, não avança sinal, não bebe e dirige. A partir deste tema gerador ‘respeito à vida', devemos trabalhar noções básicas de educação para o trânsito para todos os componentes que fazem parte: pedestres, passageiros e condutores. É importante trabalhar o respeito às regras de trânsito e o bom comportamento, que propicia a construção de um tráfego seguro e humanizado”. 
 

Produções 

O projeto já organizou eventos presenciais e on-line; orientou Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic); publicou livros e cartilhas educativas. Além disso, houve a inclusão da disciplina eletiva Educação Para o Trânsito, no Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia. 

Transitando na Educação Para o Trânsito: Movimentos Pedagógicos e Práticas Educativas do Geppem/Uepa é título de um dos livros que, somado às cartilhas, orientam o trabalho dos educadores. Dividida em três volumes, a coletânea apresenta personagens folclóricos da região amazônica contextualizados ao tema trânsito. Curupira: Superamigo do Trânsito narra, de forma criativa, a história do personagem Pirarucu e seu comportamento inadequado no trânsito, com o desfecho da mudança de sua postura com o intuito de colaborar para um tráfego seguro; Iaçá e Sua Bicicleta traz o tom regional e aborda o comportamento de Iaçá com sua bicicleta e apresenta os cuidados que a personagem deve ter com sua segurança na via pública; e Navegando nos Rios da Amazônia com Iara, que descreve outro meio de transitar na região amazônica, através dos rios. Neste último volume, a história é anunciada por personagens folclóricos: Iara, Boto e Peixe-Boi. “Ainda temos muito a realizar. Mas acreditamos que temos contribuído para avançarmos na difusão dos conhecimentos de educação para o trânsito não só na academia, mas também para toda a sociedade”, finaliza.

 

 

Texto: Thayssa Nobre (Ascom Uepa)
Fotos: Fernanda Martins (Ascom Uepa)