Uma iniciativa bem-sucedida na prática educacional inclusiva: assim pode-se definir o Laboratório de Atividade Física Adaptada (Lafad), projeto do curso de Educação Física da Universidade do Estado do Pará (Uepa) que oferece atividades gratuitas para melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes com limitações, tais como autismo, hanseníase, deficiência auditiva ou visual, síndrome de Down, deficiência físico-motora, obesidade e asma. Criado em 2007 e institucionalizado como projeto de extensão em 2016, o Lafad trabalha com variadas modalidades físicas: ginástica, dança, atividades rítmicas, aquáticas e esportes, todas voltadas para a inclusão e adaptação do público infantojuvenil.
As aulas ocorrem duas vezes por semana, nos turnos da manhã e tarde, nos espaços do Campus III, onde funciona a Escola de Educação Física da Uepa, em Belém. O projeto atende, em média, 100 pessoas por ano, dentro de três faixas etárias: de 3 a 6 anos, de 7 a 12 anos e de 13 a 16 anos. Idealizadora e coordenadora do laboratório, a professora Simone de La Rocque comenta que o Lafad surgiu devido à necessidade de ampliar a oferta de iniciativas voltadas às crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais.
“Mesmo com o advento da inclusão na década de 1990, ainda caminhamos lentamente para que, de fato, esse público tenha a oportunidade de praticar esportes e participar de projetos que atendam suas necessidades. Então, por haver pouca oportunidade nesse sentido e a partir da minha experiência - pois sou professora da disciplina Educação Física Especial e Adaptada, desde quando ingressei na Uepa -, criei o laboratório, que é um espaço voltado aos alunos e também tem perfil acadêmico-científico, pois incentivamos a área da pesquisa”, afirma Simone, que possui mestrado em Motricidade Humana - Inclusão Educacional, doutorado em Doenças Tropicais, e leciona há 27 anos na Universidade do Estado do Pará.
De acordo com a professora, o projeto estimula os aspectos motor, cognitivo, afetivo e social dos participantes: “Atuamos com o desenvolvimento global desses alunos, que vai desde o trabalho de habilidades motoras básicas, com conteúdos da Educação Física específica, até a aprendizagem da socialização”. As turmas são compostas por um número limitado de pessoas, para que cada docente consiga acompanhar de maneira individualizada os alunos. “A gente trabalha com qualidade, para acompanhar a evolução das crianças e adolescentes”, complementa Simone.
Experiência docente
Segundo a coordenadora do Lafad, o projeto também se originou da necessidade de oferecer um espaço para os alunos do curso de Educação Física vivenciarem a docência na área. Atualmente, participam da iniciativa 12 monitores estagiários e três professores voluntários. Um deles é Daniel Castilho. Formado em Educação Física pela Uepa e especialista em Fisiologia do Exercício e Educação Especial Inclusiva, ele começou a participar do laboratório como monitor, enquanto cursava a graduação, e hoje é um dos professores que auxiliam os alunos nas atividades, sendo também responsável por acompanhar os monitores do projeto durante o estágio supervisionado.
“No Lafad, direcionamos as crianças e adolescentes em um trabalho mais voltado ao desenvolvimento humano e à inclusão social, porque, muitas vezes, os alunos estão em terapias que são ligadas à área individual e ao que a gente chama de motricidade fina, que são pinturas e desenhos. Aqui, a gente trabalha mais a parte do movimento físico, atuando com a criança de maneira lúdica e buscando sempre que possível a integração de crianças de diferentes idades”, explica o professor.
Desde o ingresso de Daniel no projeto, ele percebeu a relevância que o laboratório exerce na vida dos alunos. “Muitas pessoas acabam não tendo uma condição financeira boa para procurar atendimento especializado, então consigo ver na prática o quanto é importante esse trabalho com as crianças e adolescentes. Percebemos neles uma melhora significativa, os pais sempre repassam para a gente que seus filhos tiveram uma grande mudança, então é um trabalho bastante gratificante”, ressalta.
Participantes relatam melhorias
A aluna Sthefany Pamplona, de 13 anos, começou a frequentar as aulas do Lafad aos oito anos de idade. Ela comenta os benefícios que as atividades trouxeram para a sua vida: “Quando comecei a vir para o projeto, eu precisava perder peso para não ter problemas na coluna. Gosto muito daqui, os professores são legais. Tenho gratidão pelo trabalho que fazem, porque trouxe ganhos para a minha vida. Ajudou na minha perda de peso e estou me sentindo mais energética para fazer as atividades do dia a dia, também sinto que ajudou na minha socialização”.
Enquanto o aluno João Guilherme, de 14 anos, realizava atividade com bola de basquete, para o aprendizado da iniciação esportiva, seu pai, Reinaldo Rodrigues, relatava com orgulho a melhoria na qualidade de vida do filho, alcançada com as aulas do laboratório. João possui Transtorno do Espectro Autista (TEA) e participa há um ano do Lafad.
“O projeto ajuda muito. Percebo que, quando o João faz exercício, o rendimento dele melhora durante a semana: fica mais concentrado, a hiperatividade diminui, ele conversa e a interação aumenta. O esporte ajuda a ter um certo limite e a obedecer comandos”, ressalta Reinaldo. Foi no laboratório que João Guilherme conheceu o basquete, esporte pelo qual desenvolveu afeição. “Depois que o João teve contato com o basquete, foi procurar mais sobre o assunto na internet e passou a se interessar. Até já sabe quais são os atletas da NBA”, comenta o pai do aluno, referindo-se aos jogadores da liga profissional de basquetebol dos Estados Unidos e Canadá.
Samuel de Almeida, de 7 anos, é aluno do Lafad há pouco tempo, mas seu pai, Marcio Renato, já relata melhorias em seu desenvolvimento. “Apesar de o grau de autismo dele ser leve, as atividades têm ajudado. Aqui ele gosta de correr na pista de atletismo, também gosta muito de jogar basquete. Quando chega o dia da aula, ele fica empolgado, faz questão de vir. Percebo que já houve melhora na socialização dele”, destaca.
A mudança na qualidade de vida dos alunos atendidos é percebida no depoimento de familiares dos participantes e nos estudos feitos pelo projeto de pesquisa atrelado ao laboratório. Segundo Simone de La Rocque, são aplicados questionários para avaliação, antes e depois do trabalho ser desenvolvido. “Dessa forma, podemos mensurar o impacto positivo que o projeto tem. Os resultados são muito gratificantes, pois acompanhamos de perto a evolução das crianças e adolescentes. A Uepa abre as portas para nós que queremos trabalhar com pesquisa, ensino e extensão”, conclui.
Texto: Monique Hadad (Ascom Uepa)
Fotos: Laís Teixeira (Arquivo Ascom Uepa)