A coordenadora do curso de Música do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), professora Ana Maria de Castro Souza, realizou a palestra de abertura do 39º Festival de Música Brasileira, promovido pelo Instituto Estadual Carlos Gomes na manhã de hoje, 6, e teve a oportunidade de apresentar ao público um olhar mais familiar e privado sobre o homenageado desta edição, o maestro João Bosco de Castro, seu tio, falecido em julho deste ano. Às 18h desta segunda-feira, na sala Ettore Bosio do Instituto, haverá a apresentação do Madrigal da Uepa, que leva ao público sua interpretação da obra “Rapsódia Amazônica”, composta pelo maestro. A entrada é franca e aberta a todos os públicos.
“Eu me sinto muito emocionada com o convite para compartilhar aqui um pouco da vida do maestro e o legado dele para a música paraense e brasileira. Esta aqui foi a casa dele também”, comentou a professora, que também é regente do Madrigal da Uepa. Pontuando fatos da história musical do maestro e do Pará com suas lembranças de infância e anedotas da convivência familiar, ela comoveu os presentes.
Nascido em 1940, João Bosco da Silva Castro não demorou a demonstrar sua afinidade com a música. Em 1951, aos 11 anos, já se apresentava ao público na classe da professora Odete Costa. Já aos 21, criou e regeu o coral Ettore Bosio. O maestro era o caçula da família, e todas as suas conquistas sempre foram muito festejadas entre as irmãs mais velhas e a mãe, dona Silvia. “Ele quase se tornou seminarista, essa era uma vontade grande da minha avó, uma mulher muito católica. Desde menino, ele sempre teve essa proximidade com a igreja, brincava de fazer procissões em casa”, relembrou.
Maestro, pianista, professor, compositor e arranjador, o legado de João Bosco se confunde com a própria história da música na Amazônia. Formou-se em piano pelo Conservatório Carlos Gomes, na classe da professora Dóris Azevedo e se aperfeiçoou em Regência Coral na Alemanha. Com o coro Ettore Bosio, ele se apresentou no centenário do Theatro da Paz. Também fez regência para o Coro de 1000 Vozes, ligado à Arquidiocese de Belém, dentre outros.
Levou o nome do Pará a diversos países, como regente do Madrigal da Universidade Federal do Pará (UFPA), tendo se apresentado até no Festival Internacional de Neuchatel, na Suiça. “Essa foi a viagem de uma vida. Incluiu também outros países. Ele sempre me dizia que a música o levou a lugares que ele jamais teria conhecido de outra forma”, disse.
Também teve atuação em gestão na área cultural do Pará. Foi assessor direto do compositor paraense Waldemar Henrique, na época em que Waldemar foi diretor do Theatro da Paz. Foi professor e diretor do Conservatório Carlos Gomes e da Escola de Música da UFPA e diretor da Secretaria de Desportos, Turismo e Cultura do Estado do Pará (SECDET) na gestão do secretário Olavo de Lyra Maia, na década de 1980.
Na última fase de sua vida ativa, dedicou-se ao Carmelo, indo semanalmente ministrar aulas de canto com músicas sacras para as irmãs Carmelitas. A real extensão de sua obra ainda é objeto de pesquisas sobre a história da música, que vasculham os ricos acervos do Carlos Gomes.
Texto: Fernanda Martins (Ascom Uepa)
Foto: Marcelo Rodrigues (Ascom Uepa)