Aluna do Forma Pará leva gastronomia amazônida a festival italiano

Enviado por Monique Hadad em Sex, 23/06/2023 - 09:18

 

“É uma oportunidade para muita gente que jamais passaria na porta de uma universidade. O Pará precisa disso, gerar emprego e renda com qualidade, e é por essa contribuição que agradeço ao Governo do Estado". A afirmação é da aluna do curso de gastronomia do Forma Pará, Márcia Lima, de 53 anos, que está de malas prontas para embarcar para a Itália nesta semana, onde irá marcar espaço no estande brasileiro no Popoli Pop Cult Festival, evento cultural e gastronômico que ocorre entre os dias 29 de junho e 2 de julho em Bagnara di Romagna, na Província de Ravena.

O Forma Pará é uma ação do governo estadual coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet). Lançado em 2019, o programa tem o intuito de aumentar a oferta de cursos superiores, unindo esforço com as Instituições de Ensino Superior (IES) e as prefeituras municipais. Em 2021, o Forma Pará se tornou lei e atualmente está presente nos 144 municípios paraenses com a oferta de quase 10 mil vagas.
 

Trajetória

Márcia conta que recebeu o convite para participar do evento na Itália por meio da cantora paraense de jazz Ivete Sousa, organizadora do Brazil Festival, que, em Bagnara, é parte da programação do Popoli Pop Cult. As duas se conheceram em 2019, quando Márcia estava morando em São Paulo em mais uma de suas tentativas de fazer um curso superior. Porém, a pandemia da Covid-19, iniciada em 2020 no Brasil, atrapalhou os planos da estudante que, mesmo após 19 anos de serviço público, teve que voltar à vida de servidora para sobreviver.

Mas o programa Forma Pará renovou as esperanças de Márcia, que hoje pode viver da paixão herdada da avó, que era doceira. A estudante foi aprovada para a turma do programa com aulas no distrito de Icoaraci pela Universidade do Estado do Pará (Uepa).

Emocionada, ela lembra as dificuldades de fazer um curso superior enquanto trabalhava para sustentar a família. “Para mim, é muito difícil falar disso. Foram muitos anos querendo formar, muitos anos correndo atrás dessa graduação e eu sempre 'bati na trave'. Fiz quatro períodos de história, fiz dois períodos de licenciatura em pedagogia, fiz muita coisa e nunca consegui parar, nunca consegui terminar”, conta.
 

Atualmente, Márcia trabalha em um restaurante em Belém, que mistura a gastronomia japonesa com a paraense. Por ser graduanda de gastronomia, ela já possui a carteira assinada como “chef de cozinha”. Para ela, ir ao festival na Itália representando a culinária amazônida será um grande orgulho, mas não sem enfrentar desafios.
 

“O desafio é fazer os produtos italianos remeterem à Amazônia, porque não poderemos levar muita coisa daqui; a vigilância sanitária deles é muito rígida. Vamos apostando em dois ingredientes, o tucupi e o jambu. Vamos levar congelado, pegamos algumas autorizações. No mais, vamos usar a expertise que temos. Trabalhar com salga de camarão lá. Por isso que eu vou uma semana antes. Vou ter que fazer salga de camarão, de peixe”, explica.
 

Márcia destaca ainda que o Brasil nunca saiu vitorioso do concurso gastronômico realizado durante o festival, por isso, um dos seus objetivos é conseguir destaque na disputa. “O Brasil nunca ganhou, então, vou com uma expectativa de ficar muito bem colocada apresentando um prato muito nosso. Pensei em um bom camarão no bafo e, como estou levando tucupi, pensei em um peixe para servir com arroz de chicória e uma maionese de tucupi”, revela.

Para o futuro, ela planeja adquirir ainda mais experiência na cozinha regional e um dia montar seu próprio negócio. “Eu sempre tive vontade de montar meu restaurante, mas não seria para agora. A minha ideia mesmo é pegar mais experiência ainda; ainda tenho 4 ou 5 anos de cozinha. A proposta é poder me aprofundar e ter muito mais vivência na área, na cozinha amazônida”, conclui.
 

O Festival 
 

Para este ano, a XV edição do Popoli será realizada de 29 de junho a 2 de julho. O Popoli Pop Cult Festival vai mais uma vez animar as ruas do vilarejo de Bagnara e a edição deste ano será dedicada à Amazônia.

O Festival é reconhecido como um dos mais importantes eventos interculturais do território regional, com contributos consolidados de associações também sediadas fora da Região, nas quais se respira um ambiente internacional especial de amizade e colaboração, levando a uma pequena vila medieval um mundo colorido e diverso e um público esperado de mais de 20 mil pessoas.

Texto: Fernanda Graim (SECTET)

Foto: Divulgação