Elaborar um site para integrar conteúdo sobre as olarias localizadas em um dos principais espaços produtores de artesanato paraense - o Polo Cerâmico do Paracuri, situado no distrito de Icoaraci - e, assim, divulgar e dar visibilidade ao saber-fazer tradicional. Essa foi a proposta apresentada por alunos do terceiro ano do curso de Bacharelado em Design, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), que desenvolveram o site Cerame. O projeto é intitulado Desenvolvimento de Interface Gráfica para a Promoção Cultural: rota turística da cerâmica em Icoaraci. Ainda em fase de finalização para o lançamento, o site disponibiliza dados como: localização, contato, especialidades de produtos, galeria de fotos, história da olaria, notícias e eventos.
A ideia de desenvolver a iniciativa surgiu a partir da implementação do Projeto Interdisciplinar (Prointer), modalidade de avaliação da Uepa que objetiva aproximar os trabalhos acadêmicos da realidade do mercado, além de unificar variadas disciplinas na construção de um projeto final em forma de interface ou produto. O site foi criado no âmbito da disciplina Projeto IV, que estimula os alunos a desenvolverem produtos inteligentes de alta complexidade, com o apoio das disciplinas de Ergonomia, Comunicação Visual, Empreendedorismo, Mercadologia e Produção Gráfica.
As quatro olarias mais conhecidas de Icoaraci, bem como a Escola Liceu de Artes e Ofícios Mestre Raimundo Cardoso, são enfocadas no trabalho, de autoria dos discentes Geovana Holanda, Giselle Palheta, Maysa Pena, Rahama de Sousa e Ygor Fernandes, e sob a orientação da professora da disciplina, Brena Renata Maciel.
A produção oleira de Belém e redondezas recebe a denominação de cerâmica marajoara. Na última quarta-feira, 18, o artesanato icoaraciense ganhou repercussão nos noticiários, devido ao encontro do governador Helder Barbalho com o Papa Francisco, no Vaticano. Na ocasião, o chefe do Executivo Estadual presenteou o pontífice com uma escultura de Nossa Senhora de Nazaré, produzida por artesãos do polo ceramista de Icoaraci.
Potencial - A escolha pelo tema central do site se deu pela representatividade da cerâmica artesanal, pois “carrega a história não só através da iconografia apresentada nos objetos, mas também no processo de fabricação que, por vezes, passa através da oralidade entre os membros de uma determinada localidade”, conforme a docente Brena Renata.
A discente Geovana Holanda conta que o grupo precisou buscar um caso real, com potencial para desenvolvimento de protótipo de interfaces gráficas e branding, que eram os principais focos das disciplinas de Design no semestre. “Com base em uma visita feita no ano anterior às olarias do Paracuri, em Icoaraci, por conta de outra disciplina, o grupo percebeu o potencial e a importância do desenvolvimento de um projeto que desse visibilidade para aquela área e para o saber-fazer tradicional dos mestres oleiros, que carece de atenção e reconhecimento atualmente”, afirma.
De acordo com Geovana Holanda, por meio do site é possível “reunir as informações mais importantes sobre o espaço e incentivar a visitação e a compra direta com os produtores de cerâmica, o que valoriza seu trabalho e lhes dá reconhecimento”. A iniciativa reforça o potencial turístico da região, pois incentiva o público que acessa o site a visitar o espaço das olarias. “O site, propositalmente, não trabalha com e-commerce, e sim com o fornecimento das informações que instigam o usuário a querer conhecer mais sobre as olarias, suas histórias e o saber-fazer”, destaca.
A representatividade da iniciativa levou os autores do trabalho a serem convidados pela Secretaria Municipal de Educação, da Prefeitura de Belém, para proferir palestra sobre a iniciativa, durante a 17ª Primavera de Museus do Ecomuseu de Belém, realizada em setembro deste ano. O projeto foi apresentado na Escola Liceu do Paracuri.
Experiência - O trabalho foi desenvolvido, principalmente, a partir de visitas às olarias, conversas com os mestres oleiros e por meio de parceria com os pesquisadores do projeto de Ecomuseus de Belém que, segundo Geovana Holanda, exercem “um papel importante de catalogação das olarias e forneceram também algumas informações cruciais, bem como facilitaram o contato com os donos das olarias”.
A pesquisa in loco enriqueceu o projeto interdisciplinar e estimulou os estudantes a aliarem teoria e prática, por meio de entrevistas com os oleiros e com os membros do projeto Ecomuseu. “A equipe pôde perceber o potencial que o polo cerâmico do Paracuri representa para a cultura e identidade de Belém, pois as técnicas usadas pelos oleiros são únicas. Cada olaria possui sua particularidade: algumas trabalham com a cerâmica utilitária, outras com religiosa, ou decorativa”, relata a discente Giselle Palheta.
No curso de Bacharelado em Design da Uepa, os alunos são incentivados a atender demandas locais, mediante a observação de seus contextos. É o que relata a docente Brena Renata, que atua na instituição desde 2010: “Os discentes puderam se aprofundar e conhecer personagens importantes ligados à cadeia produtiva da cerâmica de Icoaraci. Isso possibilita ir além da fronteira da sala de aula, gerando experiência principalmente na interação com potenciais clientes e na percepção de realidades”.
Dessa forma, conforme a professora, o projeto mostra o quanto o design pode transformar o cenário paraense através de projetos e parcerias, auxiliando a agregar valor à cerâmica de Icoaraci. “Quando me refiro à agregação de valor, é justamente investindo em design, através de embalagens, marcas, sites, aplicativos, construindo uma identidade visual para os produtos gerados. Isso poderia resgatar, manter e difundir a cultura indígena, e ainda valorizar o território de produção, como acontece em outras regiões em que o artesanato é fortalecido em parceria com o design”, conclui a docente.
Texto: Monique Hadad (Ascom Uepa)
Fotos: Acervo da Pesquisa