Cátedra Paulo Freire da Amazônia inicia I Encontro

Enviado por Dayane Baía em Ter, 21/11/2017 - 16:01

O direito a uma educação de qualidade é conferido a todos os brasileiros pela Cosntituição, entretanto, grupos tradicionais do país, como os quilombolas, os indígenas e os moradores de comunidades distantes dos grandes centros, ainda não se consideram contemplados. Para trazer ao debate essa questão fundamental para a Região Norte, a Cátedra Paulo Freire da Amazônia realiza a partir de hoje o seu primeiro encontro, no Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa).

Com o tema “Educação Popular, Território e Direitos Humanos na Amazônia”, o encontro apresenta os resultados parciais de pesquisas realizadas por integrantes da Cátedra, que inclui discentes e docentes de diversas Instituições de Ensino Superior (IES). “Fizemos um programação voltada para socializar os achados dos estudos, ainda em andamento, que resultam da pesquisa colaborativa da rede ‘O legado de Paulo Freire na Amazônia’, iniciada em agosto de 2016”, observou o vice-coordenador da Cátedra, João Colares.

O evento começou com uma alvorada cultural, que recebeu os participantes com um café da manhã e música promovida pelo grupo de Carimbó do Curro Velho. Na mesa oficial de abertura, a coordenadora do NEP, Ivanilde Apoluceno, criticou a articulação política que tenta tirar de Paulo Freire o título de patrono da educação no Brasil. “O pensamento educacional de Paulo Freire, e a sua educação popular, precisam mais do que nunca estar em debate neste momento em que forças políticas tentam minar seu legado. Discutir o que temos e o que fazemos é vital para estimular e ampliar os estudos acerca do tema”, pontuou a professora.

O representante da Casa da Cultura Malungo, entidade que representa as questões quilombolas, José Carlos Galiza, participou da primeira mesa de debate do Encontro. “Eu só estudei até a 4ª séria do Ensino Fundamental e quando pensava a educação quilombola, entendia que precisaríamos de outraz matrizes e metodologias para termos a educação que queremos. Quando descobri Paulo Freire entendi que tudo estava ali. Falar em sala de aula de coisas nossas, da nossa cultura. Tudo isso é contemplado na Educação Popular de Paulo Freire”, observou Galiza.

Ele criticou ainda a representação do negro na educação brasileira. “Você abre um livro didático na escola, ainda criança, e como o negro aparece? Acorrentando a um poste, seminu, levando chibatadas. Quem quer ser negro assim se essa é a sua referência? Esse modelo não atende a ninguém”, avaliou. A professora Munduruku, Roberta Caba, relatou problemas similares na educação indígena. “Essa educação imposta que não respeitava os conhecimentos e tradições de cada povo não é o que queremos. A educação precisa ser uma construção e muito ainda deve ser acertado. O que conquistamos até agora foi com luta e o caminho a percorrer ainda é grande”, disse.

A programação segue até a próxima quinta-feira, 23, e seguirá promovendo o debate sobre educação popular em suas relações com a problemática do território e dos direitos humanos na Amazônia. Temas como educação quilombola, indígena, educação do campo, Educação de Jovens e Adultos (EJA), escola pública e gênero serão socializados nos resultados de estudos e experiências articulados com o pensamento de Paulo Freire. Nas comunicações orais, 56 trabalhos de alunos de diversas IES serão expostos.

Coordenada pelo Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP) da Uepa, a Cátedra congrega pesquisadores e grupos de pesquisa, educadores, profissionais, militantes que se referenciam pelo legado de Paulo Freire, nos estados do Pará, Amapá e Amazonas. Além da Uepa, a Cátedra tem a participação da Universidade Federal do Pará (UFPA); do Instituto Federal do Pará (IFPA); da Universidade Federal do Amapá (Unifap); da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

A programação completa do evento pode ser conferida no site https://catedrapaulofreire.wixsite.com/encontrocatedra2017

Serviço:

Data: 21 a 23 de novembro de 2017

Local: Auditório Paulo Freire do CCSE, localizado na Travessa Djalma Dutra, s/n, no bairro do Telégrafo.

Texto: Fernanda Martins

Fotos: Nailana Thiely