Celebrações marcam homenagens aos Santos Juninos

Enviado por Ize Sena em Qui, 23/06/2016 - 12:44
Bandeiras coloridas, fitas, chapéu de palha, balões, fogueiras e comidas típicas são algumas características das festas do mês de junho. Ao longo dos 30 dias, São João, Santo Antônio e São Pedro recebem homenagens com festas regadas a música, guloseimas e danças. Além das festividades realizadas pela Igreja Católica, as religiões de matriz africana também realizam festas em homenagens aos santos. 
 
A origem destas festas remonta ao período do Império Romano, onde se prestava culto aos deuses que eram ligados à boa colheita e a fertilidade. “Nesse mesmo período no Império Romano, encontra-se esse tipo de festa, que é uma festa agrícola. Quando o cristianismo ganha corpo no Império, ele busca dar um novo significado a essas festas e vai tirando as divindades ligadas à colheita e colocando os santos católicos”, explica o professor do curso de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará (Uepa), José Mangoni. 
 
No Brasil, em especial no norte e nordeste, São João costuma ser homenageado com fogueiras. Em Roma, as festas do período eram noturnas, porém a “tradição da fogueira, não existe no evangelho, é uma tradição popular”, explica Mangoni. Outro fato que pode estar ligado às fogueiras é o nascimento de São João, pois sua mãe, Santa Isabel, pediu que fosse acesa uma fogueira após o parto.
 
Santo Antônio, conhecido como o santo casamenteiro, também recebe homenagens em junho. A fama de casamenteiro também é uma prática popular. “Tem algum fato na vida dele onde ele aconselhava pessoas no casamento, mas isso era secundário. Santo Antônio era, de fato, um grande pregador”, explica o professor José Mangoni. Já São Pedro é considerado o padroeiro dos pescadores e o santo das chuvas. “Ele está associado a essa questão, que no fundo tem relação com as colheitas, pois uma boa colheita precisa de chuva”, ressalta Mangoni.
 
Festas nos terreiros
Além das diversas procissões e festividades dentro do catolicismo, as religiões de matriz africana também fazem festas em homenagem aos santos juninos dentro dos terreiros. “Por conta do preconceito, as religiões de matriz africana se organizaram dentro de algumas irmandades da Igreja Católica. O negro dentro dessa irmandade celebrava a sua fé com a ressignificação dos santos católicos, principalmente, os santos de devoção popular”, explica o aluno do mestrado em Ciências da Religião da Uepa e sacerdote Ogan do Ilê Axé Bàbá Abuké,  Wanderlan Amaral. 
 
São João, por exemplo, é sincretizado com Xangô, o orixá do fogo e símbolo de justiça. “São João Batista anunciou que nasceria Jesus, que traria paz e justiça. Xangô é o orixá da justiça, de fazer com que as pessoas reconheçam suas falhas, seus erros e que assumam posições justas, assim como Batista”, explica o sacerdote. A fogueira também é símbolo de devoção dentro dos terreiros, homenageando o santo e o orixá. 
 
Essa devoção por outro lado, não é apenas fazer a camuflagem da fé. “O negro encontrou na vida desse santo, similaridades que coincidem com essa divindade que eles cultuavam na África”, explica Amaral. A devoção aos santos católicos dentro dos terreiros está ligada ao Tambor de Mina, religião de matriz africana que faz relação com o catolicismo popular. A Mina é a religião cultuada no estado do Pará e chegou à Amazônia no final do século XIX e início do século XX com os seringueiros vindos do Maranhão.
 
A devoção popular
Diversos bairros, comunidades e ruas realizam as famosas festas em homenagem a São João.  Essa devoção é mostrada não apenas com celebrações, mas também com distribuição de mingau, brincadeiras como quebra-pote e corrida do saco e concursos de quadrilhas. Escolas, universidades e empresas também costumam fazer esse tipo de festa para confraternizar com alunos e funcionários. 
 
No Mercado Municipal do bairro da Pedreira, em Belém, todo dia 29 de junho é realizada uma missa em honra a São Pedro, considerado o padroeiro do Mercado. “Os feirantes já esperam por esse momento. Eles ouvem a palavra e no fim da celebração é aspergida água benta dentro das barracas”, explica Ana Rosa Botelho, 56, que é responsável pela liturgia no dia da celebração. 
 
O vigilante Antônio Alves, 62, recebeu o nome em homenagem a Santo Antônio devido a uma graça alcançada por sua mãe. “Quando eu era pequeno, minha mãe me contou que eu nasci com um problema muito grave. Então ela se agarrou com ele e até hoje é Santo Antônio pro que der e vier”, explica o vigilante. Além disso, Antônio Alves também recebeu a graça de conseguir uma companheira. “Comecei a conversar com ele, rezava, e depois da reza pedia e estamos juntos até hoje”, conta o vigilante. 
 
 As festas
Santo Antônio é o primeiro santo a ser homenageado, no dia 13 de junho. Em seguida, é a festa de São João, no dia 24. O último santo a ser homenageado é São Pedro no dia 29.
 
Texto: Igor Augusto Pereira
Fotos: Cristino Martins/Ag. Pará e Bianca Almeida