No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta segunda-feira, 9, etnias do mundo todo se mobilizam em prol de reafirmar seus direitos e valores e combater o genocídio do qual são vítimas há séculos. As etnias não necessariamente vivem em floresta, ou seja, são aldeadas. Em diversos contextos, os indivíduos migram para os grandes centros metropolitanos, o que não lhes tira a identidade de seus povos.
O acesso à educação é um dos direitos a essa parcela da população. Para além do ensino básico, indígenas estão presentes em cursos superiores, inclusive de pós-graduação. Entre as oportunidades está a Universidade do Estado do Pará (Uepa), referência com o Núcleo de Formação Indígena (Nufi) que oferece também atividades de pesquisas, extensão e formação continuada, nas áreas da educação, saúde e tecnologia.
Acadêmica do Mestrado Educação Escolar Indígena da Uepa, Hélia Maria Gama da Silva, 58 anos, é do povo Kumaruara, na região Tapajós e conta sobre os desafios para interpor as barreiras educacionais. “Eu consegui fazer especialização, o intercultural chegou em Santarém. Para nós enquanto indígena essa interculturalidade é uma vitória, porém também foi algo muito triste, pois muitos não falavam português e não davam continuidade ao curso até por questões financeiras mesmo. O indígena sofria preconceito por isso. Diante destas dificuldades, fizemos vários movimentos e conseguimos vencer, mas a luta continua”, conta a professora que vive em Santarém.
Hélia destaca a importância da Uepa e da educação para a garantia de direitos. “Falar de educação indígena agora é buscar a nossa história. Em Santarém iniciaram os movimentos sociais através dos estudos antropológicos e o povo foi se autoafirmando, suas raízes e fazendo parte também da política indígena na questão da educação, saúde e todas as políticas que nos assistem. A Uepa trouxe para nós aquilo que nosso povo mais precisava, a cultura e essa barreira eu quebrei me esforçando”, avalia a discente.
O curso de graduação em Licenciatura Intercultural Indígena possui 76 alunos do povo Munduruku do Alto Tapajós, 32 alunos do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar Indígena (PPGEI) e deve iniciar ainda esse mês mais uma turma, com 25 vagas.
O diferencial do Núcleo se baseia no respeito aos costumes e na busca de metodologias e didáticas que facilitem o aprendizado, conservando a memória do povo que é transmitida entre gerações por meio da oralidade.
Para a professora Aline Lima, supervisora do Programa Saberes Indígenas na Escola, as ações envolvem “linguagens interculturais, suas culturas ancestrais e seus contextos escolares, tendo em vista a produção de metodologias de ensino e materiais didáticos específicos e diferenciados que possam contribuir para a qualidade da educação básica em suas escolas”.
Os materiais didáticos são produzidos especificamente para escolas indígenas. “Nestas atividades os acadêmicos do PPGEI são cadastrados na função professor pesquisador e professor orientador de estudos. Vão juntamente com os professores indígenas da escola de suas aldeias trabalhar diretamente na formação e construção desses materiais”, acrescenta a professora Aline.
Para a discente Hélia, a Uepa auxilia na documentação da história indígena. “Contamos com a Uepa, para ampliar nossa visão e mantermos viva a nossa memória, pois os professores nos estudaram para poder passar para nós mesmos a nossa própria cultura. Vocês não imaginam o quanto isso foi de grande valia, não só para mim enquanto indígena, quanto para o meu povo e para os professores da aldeia. Percebemos que o nosso material didático está aqui, dentro da nossa aldeia que é a nossa sala de aula, no nosso dia a dia. O indígena passa a aprender através de seus próprios costumes, valorizando sua história”, pondera a professora Hélia.
Aline destaca a importância da educação escolar indígena neste 9 de agosto. “Busca garantir a autodeterminação e os direitos humanos às diversas etnias indígenas do planeta. E no momento atual que vivemos é importante evidenciar que os povos indígenas são uma resistência e continuam há mais de 500 anos lutando para manter viva sua sabedoria, seu território, seus costumes, sua língua, e principalmente seu povo”, finaliza.
Texto: Dayane Baía (Secom)
Foto: Nailana Thiely (Ascom Uepa)