Encontro busca combate ao racismo na academia

Enviado por Ize Sena em Qua, 11/05/2016 - 15:20
Na sala de aula, o único menino negro da turma é chamado pela professora para escrever na lousa a palavra ‘’jamais”. Ao se levantar da cadeira, a turma toda fita os olhos no garoto. Ele ouve risadas, piadinhas debochadas e até bolas de papéis são jogadas na direção dele. Reprimido, olha para a professora, na esperança que a educadora intervenha, porém, a vê dando risada da situação embaraçosa em que mais uma vez é colocado dentro da escola. Discriminação no ambiente acadêmico é tão real quanto esse relato contado por quem era o menino, hoje, professor Amilton Sá Barretto.
 
Para uma plateia de aproximadamente 150 professores e alunos inscritos no encontro Formação de Professores e Questões Raciais: desafios institucionais, promovido nesta quarta-feira (11), no Centro de Ciências Sociais e Educação(CCSE), pelo Grupo de Pesquisa Saberes e Práticas Educativas de Populações Quilombolas (Eduq), o professor Amilton, da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), relatou outras histórias de preconceito sofridos em sala de aula, por ser da raça negra, e como isso o incentivou a ter orgulho da própria cor. “Eu só me descobri negro aos 21 anos. Foi aí que pensei que o movimento negro tinha que ganhar mais força. Lembrei das coisas terríveis que passei na sala”, diz.
 
Ele enfatizou a falta de preparo dos professores em lidar com as diferenças raciais e como isso deixa sequelas nos estudantes negros. “Vivenciamos a todo momento situações de racismo. Preconceito, discriminação e racismo são diferentes. Porém, o último, é a junção dos dois primeiros. Os educadores precisam saber como lidar com as questões raciais e desenvolver práticas pedagógicas que valorizem a identidade étnica”.  
 
O Encontro incentiva os debates sobre o combate ao racismo no ambiente acadêmico, principalmente, entre os cursos de Licenciatura da Universidade do Estado do Pará (Uepa), onde segundo a vice-líder do Eduq, Creusa Santos, concentram-se mais estudantes negros.  A demanda pelo encontro veio dos próprios estudantes, que entendem como fundamental a introdução de conhecimentos acerca da cultura, dos saberes e da história das populações negras brasileiras.
 
A professora Helena Rocha, do Instituto Federal do Pará (IFPA), falou no início da programação sobre as metodologias de ensino para a formação de professores da diversidade racial.  O Encontro, que encerra às 18h, traz para a mesa de debates os coordenadores dos cursos do CCSE, que compartilham as experiências e percepções sobre o assunto.
 
O resultado da programação será a produção de uma carta com soluções propostas para a inclusão de temáticas que favoreçam a história da África, dos africados e as contribuições para a formação da sociedade brasileira. A ideia é que as temáticas façam parte do plano pedagógico dos cursos. A carta será entregue ao reitor da Uepa, Juarez Quaresma, para consideração.
 
Qualquer pessoa pode participar do Encontro, realizado no Auditório Paulo Freire, do CCSE, localizado na travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Cada participante receberá certificado.
 
Texto: Renata Paes
Fotos: Nailana Thiely