Encontro debate a interação entre diferentes línguas

Enviado por Daniel Leite em Sex, 22/11/2019 - 13:26

A Universidade do Estado do Pará (Uepa) promoveu entre os dias 20 a 22 de novembro, o VIII Encontro Internacional do Grupo de Estudos de Línguas em Contato (GELIC), com apoio da Pró-Reitoria de Gestão e Planejamento (Progesp) e do Núcleo de Estudos Linguísticos e Literários (NELL). O objetivo foi expandir o debate sobre a produção acadêmica referente aos fenômenos do contato no âmbito das línguas, que ocorre quando duas línguas diferentes interagem.

O evento reuniu docentes, discentes e pesquisadores de diversas universidades internacionais, tais como, a Universidade de Londres, e a Universidade das Índias Ocidentais em Cave Hill, localizada em Barbados, no Caribe Oriental, além de instituições brasileiras como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), e Universidade de São Paulo (USP), para a socialização de pesquisas e projetos que envolvem temáticas relacionadas ao âmbito da linguística do contato e dos estudos sobre o ensino de línguas maternas, crioulas de base portuguesa, línguas indígenas, multilinguismo, línguas de fronteiras, língua de herança, línguas de imigrantes e outros estudos históricos sobre o contato de línguas.

Uma das pesquisas apresentadas é da professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Irenilza Oliveira, que desenvolve um projeto com o título “Entre o português e línguas africanas: letramentos em comunidades de terreiro” sobre os desdobramentos entre as línguas africanas com o português dentro dos terreiros, com o intuito de perceber as inúmeras variantes presentes deste contato nos espaços de convivência no terreiro. 

No Brasil, pouco se sabe sobre a influência das línguas africanas quando a diversidade linguística no português falado no país está em pauta. Entretanto, antes de pensar no transporte de tais línguas para o lado de cá do oceano e as conexões então formadas, é preciso entender mais sobre origens e, consequentemente, diferenças. “Sou uma mulher negra e este trabalho vem de um desejo antigo de trabalhar com questões que dizem respeito a questões raciais e étnicas que envolvem o meu povo e sempre participei deste debate fora da Universidade e agora, após o término do meu doutorado decidir ir atrás de preencher essa lacuna na minha vida”, comentou a professora sobre os caminhos que a levaram a construção da pesquisa.

Encontro Internacional - “A criação do Encontro é fruto das reuniões do GELIC e tem como objetivo fomentar um espaço de debate sobre a diversidade linguística espalhada pelo mundo, afinal, recebemos pesquisas de pesquisadores de universidades internacionais como, também, nacionais, portanto o evento se configura como um instante interdisciplinar em prol da linguística”, afirmou a coordenadora do GELIC na Universidade de São Paulo (USP), professora doutora Marcia Santos de Oliveira.

Segundo o NELL, a diversidade de línguas espalhadas pelo planeta demonstra as convergências interculturais do constante contato em um mesmo espaço, criando dessa forma, a necessidade de promover ações que sejam capazes não só de “ler” essas diferentes realidades para valorizar e preservar as línguas e as culturas em que estão inseridas.

“A realização do VIII Seminário Internacional do GELIC, na Uepa, possui um significado especial, pelo fato de essa instituição estar localizada no Pará, estado com marcante presença de descendentes de indígenas, bem como de africanos. A propósito, explicita-se que, muitas vezes, esses aspectos sóciohistóricos são negligenciados na análise de fenômenos linguísticos no português brasileiro, estando, pois, na contramão das políticas afirmativas que, felizmente, ocupam um lugar de destaque no âmbito de intervenções de políticas públicas no Brasil”, ponderou o coordenador do NELL e líder do GELIC na Universidade do Estado do Pará (Uepa), professor Ednalvo Apostolo Campos sobre a relevância do evento em território amazônico.

“A temática do contato linguístico não é recente, mas vem ganhando destaque nos últimos anos ao buscar explicações para o fenômeno da variação e mudança linguística que ocorrem no português brasileiro sob a perspectiva da participação de línguas africanas e indígenas e de imigrantes na constituição dessa variedade de português. Com isso em mente, faz-se necessário compreender que o Brasil é um país não apenas multicultural mas também multilinguístico, que teve sua identidade forjada a partir de um mosaico de línguas e culturas de matriz africana, ameríndia e também de aspectos culturais de várias partes do mundo, trazidos com os muitos ciclos de imigração. A compreensão desses fatores pode reduzir preconceitos, estigmas e estereótipos. A produção acadêmica está cada vez mais aberta ao estudo e à compreensão desses fenômenos sob diversos enfoques e linguagens”, finalizou Campos. 

A programação dos três dias contou com minicurso, conferência, mesas, exposição cinematográfica e seções de comunicação oral, oportunizando a discussão em torno de questões teórico-metodológicas sobre a aquisição de línguas em situação de contato linguístico, entre outras questões relacionadas à instrumentalização e consolidação de novas frentes de pesquisa no Brasil e no exterior.

 

Texto/fotos: Daniel Leite Jr