Estudo alerta sobre processos erosivos na praia de Vila do Conde

Enviado por Guaciara Freitas em Ter, 17/08/2021 - 11:20

Distante aproximadamente 23 quilômetros da sede do município de Barcarena, a praia de Vila do Conde costuma ser um dos pontos mais procurados por veranistas no período das férias escolares, durante o chamado verão amazônico. Considerada uma localidade tranquila, a praia apresenta processos erosivos perceptíveis aos olhares dos visitantes em alguns pontos. A preocupação com o avanço da erosão no local motivou o Estudo dos Processos Erosivos e dos Impactos Socioambientas na Zona Costeira da Praia de Vila do Conde, realizado pelas estudantes Ilziane Simões de Oliveira e Rita de Cássia Santos dos Anjos, do curso de Licenciatura em Ciências Naturais com habilitação em Biologia, da Universidade do Estado do Pará (Uepa).

A ideia da pesquisa partiu da aluna Rita dos Anjos, moradora da Vila do Conde, ao observar o impacto destrutivo das ruas, de uma quadra esportiva e dos desmoronamentos das barracas, casas e bares que se encontravam às margens do barranco da orla estuarina da praia do Conde.

Na condição de orientador da pesquisa, o professor Ronaldo Pimentel ressalta que as alunas propuseram o Trabalho de Conclusão de Curso sobre a temática, porque desejavam contribuir com a diminuição dos impactos socioambientais na área. Professor Ronaldo afirma que "os processos erosivos, que vêm destruindo progressiva e gradativamente a orla da praia do Conde, trazem vários prejuízos e preocupação aos moradores da Vila, principalmente, aos que se instalaram às margens do barranco".

Como foi realizada pesquisa

O estudo dos processos erosivos da zona costeira da praia do Conde teve observações sistemáticas de campo entre dezembro de 2019 e março de 2020, período sazonal mais chuvoso na região. Os resultados apontaram perda total de 98,5 centímetros de material sedimentar (areia, argila e silte). A medida representa quase um metro de perda de sedimentos em quatro meses. O orientador do trabalho afirma que “para prever se o avanço da erosão seria mais acentuado, a médio ou a curto prazo, precisaria avançar na pesquisa no mínimo por mais dois anos”.

Por se tratar de um TCC, as alunas não obtiveram mais resultados em razão do prazo da pesquisa de campo. Porém, o professor orientador afirma que “há planos do estudo ter continuidade com outros estudantes de graduação, bolsistas de iniciação científica, para fazer o monitoramento desses pontos críticos”.

Ao explicarem sobre os procedimentos adotados para fazerem a observação de campo, Ilziane e Rita detalham que “todos os pontos foram georreferenciados com o aplicativo GPS-Test, com aferição das coordenadas para a digitalização e confecção dos mapas. Depois, os pontos registrados no barranco foram demarcados ao longo da margem do Rio Pará, no trecho que compreende a área após o muro de contenção da igreja de São João Batista, até as proximidades do bairro Castanheira. Posteriormente, foram instalados os pinos nos pontos críticos delimitados para o monitoramento do processo erosivo. Em seguida, foram coletadas as amostras dos sedimentos para análises granulométricas”.

Alertas e contribuições

No trabalho, as alunas destacam a urbanização inadequada como uma das causas do processo de erosão, por provocar o descobrimento do solo e intensificar desmatamentos e queimadas, fatores que contribuem com a degradação do solo.

No caso da zona estuarina costeira da praia do Conde, as autoras afirmam que além da destruição de ruas, calçadas, casas, entre outros, já houve um deslizamento de encosta, em 2018, “que vitimou fatalmente uma criança que residia no local”, relatam.

Como contribuição da pesquisa, Ilziane, Rita e o professor Ronaldo querem deixar um alerta aos moradores da Vila do Conde, aos órgãos competentes e até mesmo às grandes empresas instaladas na região, para intermediarem o mais rápido possível esses impactos erosivos ocorrentes nos barrancos da praia do Conde do município de Barcarena.

O trabalho sugere medidas de prevenção e contenção, como a instalação de barreiras entre a rua, calçada e o barranco, para evitar a queda de pessoas, em lugares como a avenida Lauro Sodré, que está em processo avançado de erosão. A coleta regular de lixo também é apontada pelas estudantes como uma medida necessária. E, para conter a erosão, a pesquisa recomenda ainda “a construção de muro de gabião, que constitui um elemento estrutural que funciona por gravidade, cujo formato é uma gaiola metálica galvanizada de malha, preenchida com pedras”, explicam.

“Pretendemos levar essa discussão ao poder público. Também estamos propondo medidas para prevenção de acidentes como, por exemplo, a instalação de placas de sinalização com o intuito de alertar moradores e turistas sobre os riscos de deslizamentos de encostas em alguns trechos da praia”, afirmam as estudantes.

 

Texto: Guaciara Freitas (Ascom Uepa)

Fotos: Acervo da pesquisa