Filosofia com crianças é tema de encontro no CCSE

Enviado por Anônimo (não verificado) em Qui, 18/08/2016 - 13:36
Promovido pelo Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP) e Grupo de Estudo e Trabalho em Educação Freireana e Filosofia (Geteff), ocorreu nesta quinta-feira, 18, o I Encontro de Filosofia com Crianças e Adolescentes nos princípios da Educação de Paulo Freire. O evento foi realizado no Auditório Paulo Freire, no Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará (CCSE/Uepa) e contou com a participação de acadêmicos, pesquisadores, docentes e crianças que puderam aproveitar uma programação especial.
 
O objetivo do Encontro foi debater as atividades desenvolvidas pelo Geteff e pelo NEP, além de lançar perspectivas diversas sobre o ensino de Filosofia orientado para crianças e adolescentes de escolas públicas. A iniciativa é pioneira no estado do Pará, pois a Uepa foi a primeira a desenvolver uma metodologia nesse âmbito, que envolve considerar a criança como um igual e trazer os elementos do contexto de vida para a reflexão filosófica.
 

A abertura do evento foi uma dinâmica com as crianças da Escola Nossa Senhora da Conceição Aparecida, localizada no bairro da Pedreira. As crianças apresentaram as “Cenas Vivas”, em que representavam a Filosofia grega, o mito da caverna de Platão e o conto do Pequeno Príncipe. O mito da caverna foi adaptado a partir de elementos regionais e é inspirado no livro infantil Da caverna de Monte Alegre ao conhecimento de Platão, produzido pela coordenadora do NEP, Ivanilde Apoluceno, como recurso didático-pedagógico nas atividades do Geteff.
 
O enredo do livro acompanha os personagens Rita e Pedro, que viajam de Belém para Monte Alegre, conhecem o boto preto, o boto rosa e o boto cinza, e ouvem da avó a narrativa sobre a caverna de Platão. A avó lhes conta como essa caverna servia para contar uma história sobre o conhecimento, como servia para perguntar se havia ou não conhecimento e verdade fora da caverna. O livro foi feito há três anos e ainda não foi lançado, mas já tem sido utilizado em sala de aula. Além dessa obra, a professora Ivanilde Apoluceno já publicou, em 2011, o livro Uma conversa com Sócrates, em que os mesmos personagens conhecem o tema da pergunta e da resposta na Filosofia por meio do Menino da Pergunta e do Menino do Porquê.
 
A coordenadora do NEP, Ivanilde Apoluceno, explica que o atendimento às escolas ocorre de acordo com o interesse dessas instituições, mas que já vem sendo realizado há sete anos e mobiliza a criança como protagonista e não como coadjuvante nesse processo. “O que é mais relevante nisso? É o fato de o aluno aprender a pensar por si, problematizar, contra-argumentar, dialogar, pensar sobre as situações da própria vida. Quando fazemos diálogos, não dizemos se a resposta está certa ou errada. Refazemos a pergunta, retomamos a questão, para eles pensarem e deduzirem por eles. Eles adquirem uma autonomia de pensamento, refletem sobre a realidade, conceituam e propõem questões. Envolvemos esses alunos, portanto, em atividades cognitivas, estéticas e éticas”, elucida a coordenadora do NEP.
 
Atuando desde 2014 com as 30 crianças de quatro turmas dessa escola, a acadêmica de Filosofia da Uepa, Marlen Lorena Soares, conta que o período já teve bastantes frutos e que já percebeu melhora na interação das crianças, na atenção, no comportamento e nas possibilidades de diálogo. Segundo a acadêmica, que também faz parte do Geteff, “a motivação para fazer esse trabalho é o fato de as pessoas não considerarem as crianças como seres pensantes, mas só como seres em formação. Elas estão em desenvolvimento, mas elas já têm uma capacidade crítica e reflexiva muito forte. Trabalhar a Filosofia com elas é muito importante para a produção de sujeitos críticos, sem preconceito”.
 
Ivanilde Apoluceno também destaca que não se trata de Filosofia para crianças, mas Filosofia com crianças, pois elas são agentes criativos nesse processo de aprendizado, discussão e reflexão. “Trazemos uma questão filosófica para um contexto cotidiano. Partimos de uma realidade nossa, da Amazônia, e não só abordamos o filósofo, mas fazendo essas  relações. A forma como nós trabalhamos é pioneira por causa da forma como trabalhamos, pois em outros grupos você não vê produção de material, livros infantis, como fazemos aqui. Sempre pensei nisso, elaborei um projeto de iniciação científica e começamos a aplicação da proposta, criamos uma metodologia e criamos um grupo e passamos a aplicar nas escolas desde então.”, informa a professora.
 
O Encontro ainda conta com mais um dia de programação, que ocorrerá no Auditório Paulo Freire, com mesas redondas e um sarau de amostra de trabalhos produzidos pelo Geteff. 
 
Texto: Sergio Ferreira Junior
Fotos: Nailana Thiely