Em evento que engloba um processo articulado entre teoria e prática, o Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), foi sede do último dia do II Simpósio Nacional Geografia, Ambiente e Território (SIMGAT), na última sexta-feira, 25. Como parte de uma rede de pesquisadores em geografia socioambiental, o debate reuniu grandes referências na área.
Pautada em questões ambientais, tais como a dimensão ambiental e geográfica do espaço, a programação oportunizou aos participantes a experiência de ouvirem pesquisadores da Geografia Física, que discutem o aspecto ligado à natureza, e também da Geografia Humana. Nesse contexto de articulação entre as esferas, um dos pontos mais debatidos foi a relevância da Amazônia a nível nacional e internacional. Além disso, as dimensões de territórios indígenas; o papel das organizações e as avaliações não governamentais na política escalar e multiescalar, relacionada à economia; e os elementos ligados ao deslocamento da expansão da fronteira agrícola e agropecuária foram construções presentes na mesa de debate do evento.
Jorge Neri, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Pará, e estabelecido no assentamento de Palmares, em Parauapebas/PA, foi um dos convidados para compor a mesa denominada Conflitos e (Des)territorializações. O MST, ao defender a agricultura familiar e ser contra o agronegócio intensificado que desmata a natureza, luta pelo direito a terras e, principalmente, pela reforma agrária no Brasil. Como mecanismo de luta, ocupam terras improdutivas, por meio de assentamentos, e propriedades que não exercem a sua função social, prevista na Constituição Federal de 1988.
Na oportunidade, Jorge concedeu notoriedade para aspectos relacionados aos assentamentos rurais, questões focais, como a relação com os indígenas e quilombolas e temas de reforma agrária. Para ele, a geografia, enquanto campo de conhecimento, permitiu que o debate com vários setores pudesse mostrar como a disciplina deve ter um olhar que vai além da questão do espaço territorial. Isso porque é intimamente associado à cultura, à política, à economia e meio ambiente, além de impulsionar estudos na área da antropologia.
"Ninguém pensa no território sozinho, no rio sozinho, no clima frio ou quente sozinho. A geografia vai estar ligada a muitas relações humanas. Eu acho que pra quem estuda isso e dedica a sua vida pra aprofundar conhecimento, a partir do porte da geografia, o evento foi muito importante, serviu para juntar as experiências na reflexão. Sem pensar o agora, a gente não tem o amanhã", conclui Jorge.
Fabiano Bringel, professor de Geografia da Uepa e um dos organizadores do evento, ressalta a Amazônia como ponto de partida para interpretar o Brasil como um todo. "Nós vemos aí cada vez mais a importância dela pra questão ambiental. E, por isso, nada mais interessante do que fazer um evento na Amazônia depois de um período tenebroso de políticas de desconstrução ambiental, de obscurantismo", declara o professor. O Geógrafo também classificou as discussões apresentadas como "excelentes, interessantemente colocadas, construídas".
O II SIMGAT é parte do Programa de Pós-Graduação de Geografia (PPGG) da Uepa e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEL) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ambos ligados a aproximadamente 25 pesquisadores sobre geografia ambiental e socioambiental.