Medicina de Família encerra seminário hoje

Enviado por Fernanda Martins em Seg, 14/03/2016 - 13:49
“Nós somos médicos de pessoas, não de doenças”. Assim o professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e médico de família, Yuji Ikuta, resume a prática que vem ganhando espaço na área da saúde. A humanização do atendimento ao paciente, redução do uso de medicamentos e atenção constante aos novos estudos científicos serão temas abordados no II Seminário Paraense de Medicina de Família e Comunidade, realizado pela Associação Paraense de Medicina de Família e Comunidade e pela Liga Acadêmica de Medicina de Família e Comunidade do Pará, que ocorrerá em Belém, nos dias 15 e 16 de março.
 
A ampliação do acesso à saúde nas últimas décadas e o avanço tecnológico na área de diagnósticos e medicamentos induziram os médicos e pacientes de hoje a uma “cultura do check up”. “Muitos exames e tratamentos não são necessários e podem até causar um efeito negativo na vida dos pacientes. Por exemplo, um exame de raio-x expõe a pessoa à radiação, o preparo para uma colonoscopia pode gerar um quadro de desidratação. Já vimos até indicações de cateterismo para prevenção”, explica o médico.
 
Além de consequências físicas, o ato médico pode gerar males psicológicos ou levar o paciente a tomar atitudes danosas. Ikuta relembra o caso da atriz Angelina Jolie, que retirou as duas mamas após um exame de marcadores tumorais revelar uma pré-disposição ao câncer. “Exames como este para pessoas que não têm uma indicação real podem ser bastante lesivos, pois um resultado positivo indica apenas uma possibilidade de desenvolvimento da doença, algo que pode nunca se concretizar, mas que vai levar a pessoa a tentar tomar uma atitude preventiva”, avalia.
 
Talvez a iatrogenia – nome dado ao efeito lesivo das ações médicas – possa parece algo menor, porém, o problema é hoje a terceira causa de morte nos Estados Unidos, país onde a cultura do excesso de medicações e exames é ainda mais incorporada na sociedade. “Muitas vezes não indicar exames ou remédios é melhor para o paciente, pois os efeitos colaterais podem ter consequências bastante danosas”, pontua Ikuta, citando o exemplo da prescrição de ansiolíticos para idosos. “O uso destes medicamentos, que têm efeito calmante, aumenta o risco de quedas. Ou seja, você trata uma queixa do paciente criando um risco maior para ele”, conclui.
 
Este princípio rege a Prevenção Quaternária, que busca reduzir a interferência médica na vida do paciente ao máximo e é um dos pilares da Medicina de Família. O interesse pela especialidade é cada vez maior e o professor vê nas universidades o espaço perfeito para a divulgação desta abordagem. "A demanda por médicos de família aumenta a cada dia graças à percepção dos gestores de que a atenção básica salva vidas e representa uma enorme economia de recursos. Os médicos em formação já atentam para estas questões, logo, no futuro, veremos uma mudança na postura dos profissionais”, conclui.
 
E os pacientes dos médicos de família são só elogios para seus cuidadores. A aposentada Alzira Pereira, de 79 anos, iniciou o contato com este ramo da medicina há cinco anos. “É muito diferente do que estava acostumada. Os médicos de família são mais atenciosos, prestam mais atenção no que falamos. Eu me sinto melhor atendida”, conta. Ela e a filha são pacientes do professor da Uepa e médico de família Santino Franco, que confirma o retorno positivo por parte da maioria. “Temos excelentes resultados com essa iniciativa de ver o indivíduo como um todo. Há necessidade de mudar essa medicina antiga, que trata apenas a doença. Investir na atenção básica é tendência para o futuro”, aponta.
 
SEMINÁRIO
 
O II Seminário Estadual de Medicina de Família e Comunidade contará com a presença de médicos paraenses e convidados para debater temas importantes da prática médica voltada à Atenção Primária. Sandro Batista e Nilson Ando estarão em Belém representando a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade(SBMFC) e participarão das mesas redondas, juntamente com os professores da Uepa Yuji Ikuta, David Pereira e Zilma Pimentel. O presidente da Associação Paraense de Medicina de Família e Comunidade (APAMFC), Paulo Humberto Figueiredo, comandará a abertura do evento falando sobre a Medicina de Família no Pará.
 
O evento é aberto para acadêmicos e profissionais e terá apenas 150 vagas. “Será um momento de discussões muito interessante, principalmente, para os alunos da área de saúde. Os temas debatidos convergem com os assuntos que nortearão a 21ª Conferência Mundial de Médicos de Família, programada para novembro deste ano no Rio de Janeiro”, convida Ikuta.
 
 
Programação:
15/3
Mesa redonda: “A Medicina de Família e Comunidade no Pará”
Palestra: “Medicina Centrada na Pessoa”
Mesa redonda: “Doenças Crônicas na Atenção de Saúde primária (APS): Hipertensão, Diabetes e DPOC. Como conduzir?”
Palestra: “Diagnóstico de Saúde Mental na APS”
16/3
Palestra: “Prevenção Quaternária e Medicina Baseada em Evidências”
Mesa redonda: “Emergência Clínicas na APS”
Mesa redonda: “Abordagem à populações em cenários específicos: populações em situação de rua, comunidades rurais e ribeirinhas”
Palestra: “Síndromes exantemáticas: Dengue, Zika e Chikungunya. O que há de novo?”
 
Serviço:
Investimento: R$20.
Carga horária: 15 horas.
Público-alvo: Graduandos e profissionais da área da saúde.
Local: Auditório da Estação Saúde Reduto da Unimed Belém.
Horário: 18h30-22h30.
Maiores informações: http://www.limfacpara.com
 
Texto: Fernanda Martins/Ascom-Uepa
Fotos: Nailana Thielly/Ascom-Uepa