Pesquisadores estudam comportamento humano

Enviado por Anônimo (não verificado) em Seg, 05/05/2014 - 00:00
Alunas da primeira turma do curso de Biomedicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa), do campus de Marabá, desenvolveram o primeiro experimento de análise comportamental dentro da área de neurociência utilizando o zebrafish (Danio rerio).
 
O estudo coordenado pelos professores Monica Lima e Caio Maximino, ambos dos cursos de Biomedicina e Medicina em Marabá,segue a linha de pesquisa com neurofarmacologia do comportamento, avaliando aspectos importantes dos transtornos de ansiedade e estresse, na intenção de avaliar os aspectos neurais envolvidos.
 
O trabalho no laboratório busca respostas e tenta desvendar um pouco das bases neurais quando o zebrafish é confrontado a fim de gerar transtornos de ansiedade, medo, impulsividade ou até mesmo a depressão. Por exemplo, uma molécula que parece mediar estados de ansiedade, estresse e trauma parece ser o óxido nítrico, que é um gasotransmissor produzido no cérebro normalmente, mas também pode ser estimulado por processos inflamatórios.  O resultado até agora, segundo os cientistas, permite acreditar que o óxido nítrico normal do organismo aumenta a resistência ao estresse. Mas, quando esse estresse se estende, começa a induzir o óxido nítrico associado à inflamação, que diminui a resistência ao estresse.
 
"Todo animal sente medo, e podemos explorar essas semelhanças para identificar bases comuns. Isso porque peixes e seres humanos têm uma origem em comum, na base da radiação dos vertebrados", analisa Monica, que trabalha utilizando o zebrafish desde 2012. Já o professor Maximino incluiu o peixe desde 2007 em seus trabalhos. O curso de Biomedicina no município de Marabá ainda não possui um biotério e, como alternativa, eles recorreram ao modelo do peixe paulistinha.
 
Segundo a neurocientista Monica Lima, em alguns testes, o zebrafish funciona como uma alternativa ao uso de outros animais de pequeno porte. Além disso, o peixe é de fácil manutenção, é mais barato para a criação e tem uma alta taxa reprodutiva. A professora afirma também que esta espécie de peixe é um excelente modelo experimental para estudos comportamentais da neurociência e da genética. No mundohá pelo menos 30 anos já se faz pesquisas com o vertebrado; porém, no Brasil, a técnica ainda é uma novidade.
 
Os animais mais utilizados nas pesquisas biomédicas são os roedores, que representam cerca de 95% dos estudos experimentais. Porém, o novo vertebrado foi introduzido, e com êxito, no cenário científico. Para a neurocientista, a implantação desse projeto de pesquisa na área de ciências biológicas e da saúde sinaliza novas possibilidades para os alunos se engajarem em uma universidade que contemple, a pesquisa como caráter unificador, avançando além daqueles aspectos que são marca da Uepa e do campus de Marabá: o Ensino e a Extensão.
 
O zebrafish mostrou-se como um organismo-modelo extremamente viável para este tipo de pesquisa, rendendo aos professores e às alunas Rhayra Xavier, Lais Rodrigues e Suéllen Silva publicações em revistas renomadas como Nature Protocols, Neuropharmacology, Behavioural Brain Research, Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry, assim como capítulos de livros em coletâneas publicadas pela editora alemã Springer.
 
Lais Rodrigues, 20 anos, revela que participar desse experimento está sendo uma oportunidade ímpar na sua carreira acadêmica. "Ver tudo o que eu li nos livros, na literatura acontecer diante dos meus olhos, foi mágico", descreveu a estudante. Ela ainda afirma que os experimentos a despertaram ainda mais para o campo científico.
 
O que é ozebrafish?
 
O peixe zebrafish é um importante modelo animal utilizado nas áreas de biologia de desenvolvimento, genética e biomedicina. O uso do zebrafish como modelo experimental ganhou proeminência na década 80 quando George Streisinger estava à procura de um animal vertebrado para aplicar as recém desenvolvidas técnicas de genética molecular. Entretanto, a força do paulistinha como modelo experimental deu um salto com o primeiro projeto em grande escala para a identificação de mutantes em vertebrados.
 
O conhecimento completo do genoma do zebrafish facilita a manipulação genética e o desenvolvimento de modelos de doenças, competindo com outros modelos tradicionais. O zebrafish apresenta as vantagens de modelos de invertebrado, tal como reprodução em grande quantidade e tamanho pequeno. Ao mesmo tempo, por serem vertebrados, possuem maior afinidade com mamíferos que animais invertebrados, apresentando grande similaridade morfológica e genética. Essas qualidades tornam o zebrafish um excelente modelo quando a complexidade de modelos mamíferos não é necessária.
 
O peixe tem uma produção de 60 a 10 ovos em média por dia. Outro fator importante é a fecundação externa, onde os cientistas podem acompanhar a evolução do ovo até a fase adulta, sem sacrificar o animal. O novo modelo reduz os custos das pesquisas por ocupar menos espaço e ter uma alimentação mais barata.