Povo Ka’apor avança com governança indígena

Enviado por Dayane Baía em Seg, 13/02/2017 - 13:26

A etnia Ka’apor foi tema da mesa redonda realizada pelo Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais, Educação e Cidadania na Amazônia (Gmseca) na Universidade do Estado do Pará (Uepa) no dia 10 de fevereiro. Intitulado Movimentos Sociais Indígenas: Diálogo do Povo da Terra – Ka’apor, o evento trouxe membros da própria comunidade indígena entre os convidados que expuseram a situação de cultura e resistência dos povos originários.

Logo na abertura os indígenas fizeram apresentações de dança Ka’apor que referenciaram os animais jabuti e a andorinha. “Eles são exemplos para o nosso povo. O jabuti não anda para trás, só vai para frente e a andorinha é alegre e unida assim como nós”, explicou Itahu Ka’apor, integrante do Conselho de Gestão Ka’apor e coordenador de ações Ka’a usak hata – áreas protegidas.

Itahu é uma das lideranças que desenvolveram uma governança indígena que tem se consolidado nos últimos quatro anos. Por viverem no norte do Maranhão, em uma região de 530 mil hectares superposta a seis municípios, área cobiçada para exploração ilegal de madeira, minérios e outros bens naturais, eles precisaram se organizar internamente.

De acordo com o expositor José Maria Mendes de Andrade, etnólogo e assessor do Centro de Formação Saberes Ka’apor, para preservar o último bioma da Amazônia Oriental, os indígenas se dividiram em grupos de vigilância do território. “Eles começaram a fechar ramais de entrada de madeireiros e a reação foi violenta. Foi necessário construir formas de gestão do território, para mantê-lo protegido e para que as famílias pudessem se manter juntas e com seus direitos fundamentais respeitados”, explicou.

Dentro dessa governança, a primeira medida adotada pelos Ka’apor foi a realização de uma assembleia geral envolvendo a população formada por cerca de 1.900 indígenas. Na ocasião, eles elaboraram e firmaram um acordo de convivência entre si para adotar táticas de aumento a vigilância e impedir negociação de bens naturais de dentro do território, bem como abolir a ingestão de bebidas alcóolicas e evitar adoção de usos e costumes não-indígenas por membros da comunidade. Além disso, o acordo previu o investimento em educação, com a criação do Centro de Formação Saberes Ka'apor.

Mortalidade

No evento também foram apresentados dados sobre a violência aos povos indígenas no Brasil. De acordo com o relatório levantado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 2015 houve 137 assassinatos de indígenas em todo o país, entre eles o caso do menino Vítor Kaingang, dois anos, que teve ampla repercussão nacional.

Doenças também são as principais causas de morte de indígenas, entre elas pneumonia, com registro de 48 mortes (8,2%); diarreia e gastroenterite, com 41 mortes (7%). Essas também são as doenças que mais matam crianças menores de cinco anos, cerca de 100 crianças no mesmo ano.

Para a professora doutora Maria Marize Duarte, coordenadora do evento, o debate sobre as causas indígenas é antigo mas precisa de visibilidade. "Nossa avaliação é positiva, pois tivemos a presença de representantes de instituições importantes, inclusive lideranças indígenas que vieram do Maranhão. Além de toda a riqueza da discussão, foi criada a Frente de Defesa dos Povos Indígenas em que pretendemos também analisar outras etnias e o contexto político em que se inserem", concluiu.

 

Texto: Dayane Baía
Fotos: Dayane Baía e Renata Paes