A escola é a base sólida para a construção de um sonho. A educação, o caminho para aqueles que acreditam na mudança do mundo. E a sede de saber, a confiança para quem quer ajudar a humanidade a ser melhor. Este é o pensamento que emerge após conhecer o professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Pedro Vasconcelos, que foi reconhecido internacionalmente como um dos 100 mil cientistas mais influentes do planeta, segundo o periódico Journal Plos Biology da Public Library of Science (PLoS) dos Estados Unidos da América (EUA), que publicou a pesquisa Updated science-wide author databases of standardized citation indicators, em 16 de outubro de 2020, sobre a atualização do ranking mundial de cientistas até 2019.
Acesse aqui na íntegra a publicação do Journal Plos Biology
A pesquisa publicada foi coordenada por uma equipe da Universidade de Stanford nos EUA, liderada por John Ioannidis, e utilizou as citações da base de dados SciVerse Scopus, que atualiza a posição dos cientistas em dois rankings: o impacto do pesquisador ao longo de toda a carreira, conforme a tabela-S6-career-2019, e o impacto do pesquisador em somente um único ano. No caso específico, 2019, segundo a tabela-S7-singleyr-2019.
Para Pedro Vasconcelos, 63 anos, nascido no município de Monte Alegre, no interior do Estado do Pará, e professor da Uepa há 12 anos, a inclusão do seu nome neste grupo seleto da ciência mundial é fruto da educação e da dedicação na busca pelo conhecimento. Ele acredita que sem isso, jamais alcançaria tudo que conquistou na vida.
“Eu tenho orgulho de dizer que venho de uma família muito pobre, estudei a vida toda em escola pública e meu pai foi muito incentivador pra mim e para os meus irmãos, para nós continuarmos sempre estudando. Fora essa questão do estímulo que eu recebi, havia um sonho enquanto estudante de medicina, pois eu via que essa área da pesquisa era o que mais me interessava, porque eu queria ser médico para poder contribuir cientificamente e não só colaborar com a área clínica curando os pacientes, mas eu almejava cooperar cientificamente, fazendo pesquisas, descobrindo novos vírus, descobrindo os mecanismos das doenças e como eles são transmitidos”, afirmou o pesquisador.
A gestão superior da Uepa encara essa indicação como reconhecimento, pois reitera o objetivo em oferecer condições para que mais pesquisadores, professores e cientistas da Instituição possam desenvolver pesquisas de alto nível e colaborar para a melhoria da qualidade de vida do povo paraense e, consequentemente, da humanidade como relata o reitor da Uepa, Rubens Cardoso.
“O reconhecimento conferido ao professor Pedro Vasconcelos traz subjacente à reputação e prestigio intelectual, um efeito emulativo muito positivo para a comunidade acadêmica da Uepa que num processo de aprendizagem continuada poderá desvendar novas questões de pesquisa, ampliar o engajamento de docentes e ao mesmo tempo fortalecer a indissolubilidade entre ensino e pesquisa", afirma o reitor.
Trajetória em prol da ciência
O desempenho do professor Pedro Vasconcelos tem sido pontual e estratégico dentro do âmbito das pesquisas científicas vinculadas à área da virologia e biologia parasitária, tais como as relacionadas ao Zika vírus (ZIKV), desenvolvidas durante sua atuação no Instituto de Evandro Chagas (IEC), e que resultaram em artigos no jornal científico Scientific Reports publicado pela Nature Reseach, com mais de mil citações, e na revista científica Science, com mais de 650 citações.
A jornada acadêmica de Vasconcelos ainda consta com artigos publicados nos periódicos Nature Communications, Cell e Nature Medicine, referentes à questão da vacina da Febre Amarela (17DD). Estas pesquisas foram financiadas pelo Ministério da Saúde com coordenação do pesquisador Pei-Young Shi da University of Texas Medical Branch (UTMB), nos EUA, e pelo professor da Uepa, no Brasil.
Além disso, destaca-se a significativa quantidade de arbovírus e hantavírus que foram descritos e pesquisados dentro da Amazônia brasileira e que geraram artigos científicos de grande repercussão na comunidade científica mundial. “São trinta e sete anos de atuação lidando com muitos tipos de vírus e desenvolvendo pesquisas científicas em áreas de desenvolvimento da Amazônia como na área da Usina de Tucuruí, Carajás e Porto Trombetas, além de diversas cidades por onde passa a rodovia transamazônica Belém-Brasilia e outras áreas ribeirinhas do interior do Estado do Pará. Portanto, é um grande número de espaços paraenses para o desenvolvimento de estudos mais amplos na busca por novos vírus que até então a humanidade nem sabia da existência e se eram patogênicos para seres humanos ou não”, comentou Pedro Vasconcelos.
A carreira do professor Pedro Vasconcelos foi construída em prol da ciência, na busca por desenvolver pesquisas acadêmicas dentro da Amazônia, com relevância que ultrapassa as barreiras do território brasileiro e se fixa como referência para a comunidade científica do mundo todo, haja vista as diversas vezes em que as pesquisas foram citadas e funcionaram como base para outros pesquisadores, de diversas instituições de ensino superior (IES), institutos e fundações de fomento à pesquisa científica em outros países.
Educação como chave para resolver questões da humanidade
O Brasil está entre os países que mais publicam na área da saúde. Segundo o Ministério da Saúde foram produzidos entre os anos de 2016 e 2018, aproximadamente, 237 mil publicações catalogadas pela base de dados da SciVerse Scopus. A grande característica da produção brasileira são artigos, capítulos de livros, resenhas, livros completos e outros formatos de pesquisas com temas heterogêneos que colaboram para a diversidade temática da produção científica do Brasil, ou seja, um equivalente a 2,6% da produção científica mundial.
De acordo com professor Pedro, a produção científica brasileira pode ter números maiores e próximos dos níveis produtivos dos países desenvolvidos se a educação de nível superior no Brasil receber um olhar mais aprofundado pelo Governo Federal, haja vista que, para o pesquisador, o dinheiro aplicado na educação não é uma despesa, mas um investimento que sempre traz retorno à sociedade e contribui para a evolução da qualidade de vida das pessoas.
“A educação de qualidade é a chave para diversas questões da humanidade. Digo isso, pois a minha vida seria totalmente diferente se eu não tivesse focado todas as minhas forças na busca pela minha formação educacional e hoje em dia que sou professor universitário, mesmo sem nunca ter almejado dar aula em faculdade, faço como uma forma de gratidão a tudo que o ensino me ofereceu na vida, porque penso que tenho algo a retribuir pela área da educação pública”, disse o professor da Uepa.
Contribuições na Uepa
Pedro Vasconcelos trabalha como professor adjunto na Uepa desde 2008 e, atualmente, ministra a disciplina de Patologia Geral. Já foi coordenador da pós-graduação em Biologia Parasitária. Neste ano, como presidente da Comissão de Biossegurança e Infraestrutura, ajudou a Universidade a desenvolver novas estratégias de enfrentamento da pandemia, oferecendo suporte científico à gestão superior da Uepa, quanto à tomada de decisões neste momento de pandemia do novo Coronavírus (SarS-CoV-2), causador da Covid-19.
Esteve na equipe que concebeu a Pesquisa Epidemiológica Institucional, para o desenvolvimento de um diagnóstico situacional da prevalência do vírus na comunidade acadêmica, além de ser um dos autores da cartilha informacional intitulada Coronavírus: tudo que você precisa saber e fazer para se prevenir.
O pesquisador ainda atuou na equipe que coordena a realização do inquérito soro-epidemiológico realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa), que teve como objetivo medir a expansão da pandemia do novo Coronavírus no território paraense, a partir da aplicação de testes e questionários sociais com a população das oito regiões do Pará, abrangendo 101 municípios, totalizando, aproximadamente, 27 mil domicílios visitados nas áreas urbanas e rural e 26 mil pessoas alcançadas pelos 227 profissionais, entre discentes e docentes, da Uepa.
Sobre a carreira
Pedro Vasconcelos é médico formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) desde o ano de 1982, com doutorado em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1999 e pós-doutorado na área da microbiologia com especialidade em virologia molecular pela University of Texas Medical Branch em Gavelston, nos EUA em 2003.
Possui conhecimento na área de Microbiologia, Medicina Tropical e Patologia focada em virologia, principalmente, nos seguintes temas: Dengue, Febre Amarela, Zika, Chikungunya, Hantavírus, Raiva, bem como em epidemiologia, biologia molecular de vírus, patogenia e descrição e caracterização de novos arbovírus e neurociências, principalmente neuroinfecções causadas por arbovírus, que contribuíram para uma ampla produção científica, totalizando, aproximadamente, mais de 280 artigos e de 60 capítulos publicados em periódicos e livros científicos no Brasil e exterior.
Trabalhou como médico pesquisador no IEC e doi chefe da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas por 16 anos, além de ter sido o diretor do Instituto entre 2014 e 2019. Também foi diretor do Centro Colaborador da OMS/OPAS para pesquisa e referência em arbovírus. Participou diretamente no isolamento e na caracterização de mais de 10 mil isolados virais, e na identificação taxonômica de mais de 100 vírus novos para a ciência, além de ter coordenado a equipe do Instituto Evandro Chagas que demonstrou que o Zika vírus causa microcefalia e outros problemas congênitos.
A atuação como pesquisador foi extensa e contém experiência como coordenador do Laboratório de Referência Nacional de Dengue, Febre Amarela, Chikungunya entre 1998 e 2019, além de sido membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Paraense de Ciências e da Academia de Medicina do Pará.
Além da vasta carreira, professor Pedro também recebeu no ano de 2017, a comenda e medalha do Mérito da Cabanagem oferecida pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa). Em 2018, recebeu a Ordem do Mérito Médico e a Ordem Nacional do Mérito Científico, ambas como Comendador, ofertadas pela Presidência da República. Por estar entre os cientistas mais influentes do mundo, em 2020, o pesquisador também recebeu votos de aplausos em sessão da Alepa, em requerimento do Deputado Bordalo (PT).
Texto: Daniel Leite Jr (Ascom-Uepa)
Fotos: Alex Ribeiro (Agência Pará) / Marco Nascimento (Secom-PA) / Nailana Thiely (Ascom-Uepa)