Professores da Uepa e UFPA iniciam pesquisa para volta às aulas

Enviado por nailanathiely em Sex, 10/07/2020 - 10:35

 

Uma pesquisa em parceria entre professores da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e Universidade Federal do Pará (UFPA) pretende formular nos próximos dias uma cartilha direcionada exclusivamente à comunidade acadêmica de Instituições do Ensino Superior (IES), com orientações para o retorno às atividades presenciais após o período de isolamento social. A primeira etapa de levantamento será feita por um formulário online, que pode ser respondido até o próximo dia 15 de julho.

 

A pesquisa intitulada Retorno às atividades acadêmicas presenciais após o isolamento social: Construção de uma tecnologia educacional é voltada, sobretudo, às demandas de saúde mental da comunidade acadêmica, entre docentes, graduandos, pós-graduandos e técnicos-administrativos.  Os dados serão analisados com auxílio do software IRAMUTEQ para dados qualitativos e SPSS para dados quantitativos. O planejamento inicial inclui, no mínimo, duas mil respostas ao formulário.

Após análises de respostas, uma cartilha preliminar será construída pelos professores e enviada juntamente a um formulário de avaliação a 12 membros da comunidade-alvo, acadêmicos de instituições públicas de ensino superior de Belém, sendo três representantes de cada grupo da primeira fase. Uma vez aprovada, a cartilha final será distribuída virtualmente para todas as instituições às quais se destina. O lançamento do estudo dos professores está previsto para a primeira semana de agosto.

A iniciativa é coordenada pelo professor da Uepa, Paulo Delage, e pela professora da UFPA, Aline Menezes, que atuam na área de psicologia escolar. Aline Menezes coordena o Laboratório de Soluções Educacionais (LSE) e desenvolve projetos de extensão sobre saúde mental entre graduandos e pós-graduandos. O professor Paulo Delage atua no grupo de pesquisa G.A.M.E.S,  que estuda jogos aplicados aos contextos de ensino, educação e saúde, sediado na Escola de Enfermagem da Uepa desde 2017.

Durante as discussões realizadas entre os grupos durante o período de isolamento social foram identificados altos níveis de ansiedade entre alunos em relação ao retorno às atividades presenciais, fator comum a outras instituições de ensino superior. Na pesquisa inicial, observou-se que estes impactos psicológicos são decorrentes não apenas pelo medo de adoecer, mas da situação econômica e da impossibilidade de cumprir e viver rituais sociais, a exemplo do luto, em docorrência das medidas sanitárias.

Para o professor Paulo Delage, a principal relevância da pesquisa é o auxílio às instituições para um retorno de atividades que considere as questões acadêmicas e o aspecto psicológico da comunidade. “É preciso pensar que teremos que retornar ao trabalho lidando com perdas pessoais, sofridas no seio familiar e entre amigos, e coletivas, já que tivemos perdas de colegas nesse período. Além disso, como o material será produzido a partir da escuta da própria comunidade, não será uma cartilha genérica, mas um material voltado para nossas demandas e anseios imediatos. Muitos sofreram crises de pânico e depressão no período; podem ter partido para o consumo abusivo de álcool e outras drogas; outros podem ter se deparado ou sido alvo de episódios de violência doméstica... em suma: não retornaremos de um período de férias e sim de um período de afastamento forçado, entremeado de episódios trágicos e desgastantes, logo é importante que as instituições de ensino não assumam uma postura de compensação do tempo perdido, sem levar em consideração essas particularidades do momento”, avalia.


Planejamento e segurança - Em nota técnica, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco)  enfatizou a importância de um planejamento que dê prioridade à segurança e à proteção de estudantes, professores e outros funcionários, bem como à saúde – física, mental e psicossocial, bem-estar e relações sociais. A Unesco destaca o estresse pós-traumático decorrente da doença em si e do isolamento e confinamento experienciados.

Entre os principais desafios do retorno também são citados o aumento do risco de abandono escolar, o agravamento das desigualdades existentes e das que vierem a surgir, ou a perda de profissionais do setor educacional. Para favorecer o sucesso da reabertura às atividades presenciais, com base em experiências anteriores, a nota técnica da Unesco recomenda uma comunicação eficiente que garanta a confiança mútua entre as partes envolvidas (famílias, educadores, estudantes, etc.). Deve-se atentar também aos impactos socioeconômicos da crise sanitária e as possíveis demandas de ordem de assistência social, em especial nos casos de violência e/ou de vulnerabilidades. Por fim, o documento propõe uma série de recomendações de medidas de gestão escolar e de planejamento pedagógico que podem favorecer a continuidade da aprendizagem, bem como de suporte à saúde física e mental de toda a comunidade escolar.



Texto e foto: Nailana Thiely/ Ascom Uepa