Simpósio ensina na prática o cuidado com o meio ambiente

Enviado por Anônimo (não verificado) em Sex, 18/11/2016 - 16:47

Há dois dias em Belém, o agropecuarista Espedito Lopes, 66 anos, se encantou com a quantidade de água que cerca a capital paraense. Cenário diferente do visto nas terras cearenses de onde ele veio. Dono de um sítio na beira do Rio Jaguaribe, no Ceará, Espedito conta que os moradores, animais e plantações padecem pela falta de água. Na manhã de hoje, 18 de novembro, ele acompanhou a palestra sobre Bacias Hidrográficas e Recursos Hídricos como Potencial Gerador de Energia na Amazônia Legal, ministrada pelo professor doutor Octavio Junior, durante a programação do V Simpósio de Estudos e Pesquisas em Ciências Ambientais na Amazônia. O agropecuarista se surpreendeu como a água tem sido utilizada e reutilizada por meio de pesquisas no Pará.

“Assistimos aqui um luxo de água, enquanto estamos lá no Ceará sem ela. Ouvimos falar em represar água para gerar energia. Achei interessante ele falar até em aproveitar água do telhado. No Nordeste, agora que não tem água que querem aproveitar a do telhado. Aqui vocês já estão falando em aproveitar e ter água de qualidade. Estamos atrasados”, enfatizou o agropecuarista. 

Este e outros temas como extravismo vegetal na Amazônia, sustentabilidade ambiental, crises e alternativas ecossocialistas, e resíduos da construção civil, foram trazidos à tona para discussões no V Simpósio, sediado no Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT), que se iniciou na quarta-feira(16) e se encerra hoje, após às 18h. 

A doutora em Ciências Biológicas com pós-doutorado em Etnobotânica, Flavia Lucas, abordou questões referentes a sociobiodiversidade, que é o conhecimento desenvolvido por comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, tradicionais e não tradicionais, sobre as plantas. “ As culturas formam seus repertórios com o uso da natureza, como as plantas medicinais, as plantas que curam, para os rituais sagrados, para as curas espirituais, as plantas para o artesanato. São as plantas na reprodução da vida social das pessoas”, enfatizou.

 Já o professor doutor em Produção e Tecnologia de Sementes, da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), Breno Marques da Silva, abordou a conservação de espécies florestais fora do ambiente de origem. “ Uma das estratégias que podem ser usadas para a conservação das plantas fora do ambiente natural é coletar o material, fazer a reprodução de mudas, e introduzir dentro da arborização da cidade. Utilizar para melhorar a qualidade ambiental da cidade”, explicou.

O Simpósio também ofertou minicursos para ensinar os tipos de solo e a relação com o crescimento das plantas; cultivo de plantas medicinais; mapeamento e prevenção de riscos ambientais; entre outros. A bióloga e engenheira agrônoma Aline Zoia, veio de São Paulo, ensinar o cultivo de hortas orgânicas para autoconsumo.

Durante dois dias de minicurso, ela mostrou a dinâmica de plantar e colher legumes e hortaliças. Ela também ensinou ações preventivas de combate a pragas. Para a especialista, tem crescido o interesse das pessoas em aprender a cultivar o próprio alimento, devido aos receios de se consumir alimentos com agrotóxicos “ Você pode improvisar ao fazer sua horta. Pegar um vaso antigo, garrafa pet, adubo sem ser químico, semente. Uma horta orgânica não pensa só em não usar agrotóxico e não usar sementes transgênicas. Ela pensa no cuidado com o solo. É o respeito com a natureza. Para o clima da região daqui, é bom se plantar alface, rúcula”, pontuou ela.

Para os participantes também houve a opção de se envolverem em oficinas como a de Confecção de Recursos Didáticos com Materiais Recicláveis e/ou de Baixo Custo para o Ensino de Ciências e Educação Ambiental, realizada pelo professor Altem Pontes. Ele ensinou na prática como relacionar a ciência, química, física, e a matemática com o meio ambiente. “ Nós simulamos uma sala de aula na área do estacionamento do CCNT. Mostrei para eles o que poderiam naquele espaço ensinar de práticas de educação ambiental. Eles poderiam usar o muro para fazer um jardim suspenso. No espaço da entrada do estacionamento poderiam colocar lixeiras para coleta seletiva, poderiam utilizar ou colocar calhas para fazer reaproveitamento da água. Na biologia poderiam colocar o nome científico das árvores, dos insetos. Poderiam ensinar química trabalhando a combustão das folhas, ensinar matemática porque as árvores são de diâmetros diferentes”, detalhou ele.

Este ano, o V Simpósio registrou cerca de 500 inscrições e 300 trabalhos aprovados. Com tema Impactos Ambientais das Atividades Humanas, o evento abordou trabalhos nas áreas das Ciências Biológicas; Agrárias; Exatas, da Terra e Engenharias; Humanas e Sociais Aplicadas, e ainda promoveu o lançamento de livros de professores da Uepa, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 

Texto: Renata Paes
Foto: Mácio Ferreira