Distante 360km de Parauapebas e cerca de 1.000km de Belém, a Aldeia do Cateté, localizada na região de Carajás, foi o local escolhido para a aula inaugural do curso de Licenciatura Intercultural Indígena, realizada nesta sexta-feira, 7. A Universidade do Estado do Pará (Uepa), por meio do programa Forma Pará e em convênio com a prefeitura de Parauapebas, aceitou o desafio de levar ensino superior para os indígenas da etnia Xikrin. Pela primeira vez, membros da comunidade tradicional vão ter a oportunidade de cursar uma graduação, sem se deslocar do seu lugar de origem.
A aula contou com a presença dos 50 alunos - sendo 49 homens e 1 mulher - aprovados em processo seletivo realizado entre novembro e dezembro do ano passado, com etapas presenciais - redação e entrevista - realizadas na Escola Indígena de Ensino Fundamental Bep Karoti Xikrin. A turma deverá se formar no final de 2025.
Esta é a primeira turma de graduação superior ofertada para os indígenas do Cateté. Kaioré Xikrin, representante acadêmico da turma, destacou a parceria da Universidade com a aldeia Xikrin. “Agradeço aos caciques que lutaram para conseguir essa Universidade. Hoje é dia de comemorar”, disse o aluno.
A mesma emoção foi compartilhada pelo Cacique Bep Krokoti, que considera o curso uma conquista. “A gente tá vendo os alunos que vão ter um futuro pela frente. Queria agradecer a todos vocês e aos caciques que estão nesse momento. Vamos pra frente, que dê tudo certo, que todos os alunos sejam vitoriosos do povo Xicrin”, afirmou. A única mulher cacique dos Xikrin, Cacique Kokoti, também teve voz durante a aula que marcou o início da graduação. “Aproveitem cada momento do curso, é importante para a nossa comunidade. Os caciques estão prontos para lutar em prol da comunidade. Agradeço a equipe que está hoje e a cada cacique que está aqui no momento. Esse é um momento histórico para a nossa comunidade”.
As boas vindas aos calouros foram dadas pelo diretor acadêmico-pedagógico do projeto Forma Pará, Diego Coimbra; coordenador do Forma Pará pela Uepa, professor Messias Furtado; pelo titular do Departamento de Relações Indígenas (DRI) da Prefeitura de Parauapebas e representante do prefeito, Girlan Pereira, além do reitor da Uepa, Clay Chagas. “Essa é uma luta constante. Eu fiz questão de estar presente para mostrar a importância deste ato para gente. Agora vocês são alunos da universidade!”, destacou o reitor.
Curso formará professores indígenas
A chegada da Licenciatura Intercultural Indígena é uma demanda específica do povo que vem desde 2013. Esta turma Xikrin do Cateté conta com financiamento do Programa Forma Pará. O Curso possui carga horária total de 4.200 horas, distribuída em aulas de 50 minutos.
“Hoje a gente cumpre essa meta e daqui pra 2025 a gente entrega para a comunidade professores aptos a trabalhar na sua própria escola. É o crescimento e permanência da cultura do povo Xikrin”, afirma a coordenadora do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, Aline da Silva Lima.
O secretário de Educação de Parauapebas, José Leal Nunes, destacou que “estamos contribuindo com a educação do povo Xikrin. Conseguimos realizar o I Seminário indígena em 2021. Esperamos daqui a quatro anos participar da formatura”.
O curso será realizado na escola da aldeia e está dividido em módulos que irão abordar a prática pedagógica, o estágio supervisionado e o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão.
Após a finalização, os futuros professores indígenas poderão atuar nas escolas locais.
Texto e fotos: Marília Jardim (Ascom Uepa)