Comunidades quilombolas, educação e cultura são tema de seminário

Enviado por Anônimo (não verificado) em Ter, 10/11/2015 - 12:17

 A Universidade do Estado do Pará (Uepa) promove nesta terça-feira, 10 de novembro, o IV Seminário do Grupo de Pesquisa Saberes e Práticas Educativas de Populações Quilombolas (Eduq), com o tema “Quilombolas no Pará: antigos embates, novas perspectivas”. O evento é realizado no Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) e visa o debate sobre legislação, políticas públicas, além de outras questões raciais e sociais.

De acordo com a professora de Pedagogia e coordenadora do Eduq, Creusa Santos, esse tipo de debate é relevante para o Pará, pelas especificidades da região Amazônica e pelo fato de haver 420 comunidades quilombolas reconhecidas no Estado. Na própria Uepa, a discussão sobre inclusão étnico-racial a esse respeito é recente. “Apresentamos ao Conselho de Centro a criação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, que várias universidades públicas têm hoje, em âmbitos estaduais e federal. Essa questão da inclusão está para além da educação escolar quilombola. O Eduq acompanha essas demandas”, declara a professora.

A professora Creusa afirma ainda que o debate sobre a educação quilombola é novo, já que as diretrizes para a educação quilombola como modalidade específica só foram definidas recentemente. “O objetivo do grupo e do evento é dinamizar e acompanhar essas referências de educação nas comunidades quilombolas do Pará, em relação à inclusão da modalidade de educação escolar quilombola, desde 2012, por causa de resolução do Ministério da Educação”, afirma a Creusa.

O evento é aberto à comunidade acadêmica, pesquisadores e professores. Para a acadêmica de Pedagogia da Uepa, Bianca Gonçalves, o evento oferece uma oportunidade de debate que não está tão presente na sala de aula e instiga os estudantes a buscar conhecimento sobre essas dimensões educacionais e sociais dos quilombolas. “Esse evento é importante para despertar na gente o interesse em conhecer como está a questão dos quilombos, da educação, e a partir daí pensar de modo mais abrangente e discutir esses temas de diversidade”, ressalta a acadêmica.

Questões raciais em debate: A programação do evento apresenta um quadro sobre educação no campo e quilombola; a violência urbana que afeta a população jovem e negra; além das ações afirmativas no ensino superior. De acordo com a também professora de Pedagogia e coordenadora do Eduq, Ana D’Arc, esses tópicos são discutidos hoje devido à militância dos movimentos sociais no reconhecimento das identidades e cultura afro-brasileiras.

Segundo Ana D’Arc, a temática está relacionada a “um debate social e questões sociais. Eu entendo que a Universidade não deve estar fora disso. Quando temos um grupo de pesquisa que traz e levanta essas questões, eu acredito que a Uepa está contribuindo, não está apenas observando.” 

Uma herança da escravidão: a formação das comunidades quilombolas no estado do Pará está relacionada aos escravos trazidos por portugueses e holandeses para servir em engenhos de cana-de-açúcar, em Belém e no interior, e com a fuga de escravos para a região, por ser de floresta densa e de difícil acesso aos capitães do mato.

A professora Creusa Santos explica ainda, que “é por isso que as comunidades se localizam em lugares muito longínquos, quase sempre embrenhados na floresta. Há muito poucas comunidades aqui no entorno de Belém. As mais difíceis de se chegar ficam a mil quilômetros daqui, em Oriximiná, por exemplo, que tem 23 comunidades, cada uma mais distante do que a outra”.

Por causa desse processo de formação social e histórica na região amazônica, os integrantes do Eduq creem ser necessário um resgate de uma história que ficou relegada ao passado, junto com um acompanhamento e um mapeamento dos saberes, das práticas culturais, dos aspectos afro-religiosos desses grupos, para que passem a fazer parte do acervo dessas comunidades.

Texto: Sergio Ferreira Junior
Foto: Miguel Alves