Pará conhece primeira turma de professores indígenas

Enviado por Anônimo (não verificado) em Ter, 19/04/2016 - 17:40

Na cabeça o cocar, no corpo as pinturas e a beca, no coração a mistura de emoção e realização tomou conta dos 72 índios das etnias Tembé, Gavião e Surui Aikewara, durante a cerimônia de Outorga de Grau da primeira turma de Licenciatura Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará (Uepa). No dia deles, Dia do Índio, comemorado hoje, 19 de abril, o Pará recebe professores indígenas aptos a transmitirem conhecimento as atuais e futuras gerações, dentro do próprio contexto que vivem, as aldeias.

Da etnia Tembé, João Pedro Soares, 71 anos, esboçava no sorriso o orgulho em ter o filho, Raimundo Nonato Soares, como o primeiro membro da família com título de graduado. “ Eu me sinto muito honrado. Foi uma luta muito intensa para ele, que trabalhava como professor, só que agora tem formação. Todos vieram o ver. Esposa, filhos, eu”, diz João.

Minutos antes da solenidade começar no Auditório do Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, o Surui da aldeia Sororó, Amonete Surui, 25 anos, tentava controlar a ansiedade. “ É uma conquista muito importante. Não é fácil, mas nós conseguimos. Vou poder ajudar a minha aldeia e buscar mais qualificação”, enfatizou.

A mesa da solenidade foi composta pelo governador do Estado, Simão Jatene; vice – governador e também paraninfo da turma, Zequinha Marinho; o reitor da Uepa, Juarez Quarema; vice-reitor da Uepa, Rubens Cardoso; secretária de Educação, Ana Claudia Hage; coordenador da Fundação Nacional do Índio(FUNAI), Juscelino Bessa; coordenadora do Núcleo de Formação Indígena da Uepa, Joelma Alencar; coordenador da Uepa em São Miguel do Guamá, Samuel Campos; e  dos representantes das etnias Tembé, Suruí e Gavião.
 

Para entrada dos graduandos, cada etnia cantou e dançou nas próprias línguas e músicas. O Hino Nacional Brasileiro foi cantado na língua dos povos Gavião e Surui Aikewara.  Em discurso, o governador do Estado do Pará, Simão Jatene, parabenizou o esforço dos professores e estudantes. “Eu quero festejar e parabenizar todos os que concluíram hoje o curso. Quem não tem história é quem não tem memória, não tem futuro. Eu imagino o esforço que cada um de vocês fizeram até chegar aqui. Entendo que isso deve ser efetivamente uma Universidade.  Uma Universidade deve buscar da universalidade ao saber específico e tornar específico o saber universal. Esse é um momento que sintetiza bem isso”.

O reitor da Uepa, Juarez Quaresma, prospecta a expansão do curso com especializações. “ A partir de hoje os licenciados vão passar a atuar dentro das suas próprias aldeias, ensinando e formando seu próprio povo. O curso vai continuar. Estamos procurando parcerias interinstitucionais para ampliar a oferta desses cursos e planejar também uma pós-graduação em nível de especialização para esses indígenas”, ressaltou o reitor.


A coordenadora do Núcleo de Formação Indígena, Joelma Alencar, relembrou o primeiro contato que teve com os indígenas a partir da ida as aldeias. “Meus queridos professores indígenas, lembro de cada momento e do começo dele. Todos nós temos uma missão e a minha missão foi cumprir os quatro anos do curso de Licenciatura Intercultural Indígena. Lembro-me da primeira visita que fiz ao Aldeia Kyikatêjê e numa conversa com o Zeca e a Concita não meditaram esforços para que o curso fosse ofertado para todos de todas as aldeias. Lembro da primeira visita na aldeia sede para pensar no curso com o povo Tembé. E a primeira visita a aldeia Sororó. Fomos recebidos com uma certa dúvida. O curso se tornou realidade, despertou muitos sonhos em vocês. Vocês querem muito mais e sabemos disso". 

Em discurso representando os Gavião, a professora Concita Guaxipiguara Sompre, lembrou que assim como os indígenas aprenderam com os professores da Uepa, os professores também aprenderam com eles.  “Vamos sair daqui hoje com um canudo que nos permite estarmos em sala de aula, em que trabalharemos o diferenciado do saber científico e do conhecimento tradicional. Seremos capazes de produzir nossos próprios materiais didáticos. Hoje nós sairemos daqui professores conscientes das nossas responsabilidades. Eu tenho certeza que hoje estamos formando duas turmas, a turma de Licenciatura Intercultural indígena, e a turma de professores que saem daqui mais conhecedores dos nossos costumes”. 

Confira as fotos da cerimônia no perfil da Uepa no Flickr: https://goo.gl/p1vRSF

 

Texto: Renata Paes
Foto: Nailana Thiely