Pesquisadora da Uepa explica a gripe H1N1

Enviado por Fernanda Martins em Seg, 02/05/2016 - 09:29

Irna Carneiro

O vírus do H1N1 voltou a circular no Brasil e as notícias sobre mortes em consequência da doença causaram certo pânico na população, que lotou postos de saúde em busca da vacina. O grande destaque que esta recirculação do H1N1 ganhou no Brasil nos últimos meses motivou o XVIII Congresso Médico Amazônico – realizado na última semana em Belém – a dar espaço para a divulgação das últimas informações acerca do vírus. Um Simpósio reuniu médicos e pesquisadores para atualizar os profissionais de saúde no manejo dos pacientes. Ontem, o Dia D de vacinação teve grande adesão da comunidade em Belém e os profissionais orientam: a vacina é a arma mais eficaz na prevenção da doença.

A pandemia de gripe A, ou gripe suína, em 2009 – quando o mundo conheceu uma nova cepa do H1N1 - trouxe para os noticiários cenas dignas de filmes de Hollywood. Pessoas usando mascaras de proteção em locais públicos, quarentenas e o abate de porcos em países onde a epidemia surgiu com maior gravidade habitavam o imaginário dos brasileiros e preocupavam a todos. Entretanto, o vírus H1N1 revelou ter uma mortalidade parecida com os demais vírus causadores de gripe já conhecidos dos médicos, como o Influenza A (H3N2) e o Influenza B. “Para nossa felicidade, o vírus que ressurge agora é o mesmo, não sofreu nenhuma mutação. Por isso, a mesma vacina desenvolvida em 2009 é válida agora”, comemora a doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias e professora da Universidade do Estado do Pará, Irna Carneiro, que integrou a mesa de debates do simpósio.

Boa parte dos cuidados e recomendações acerca da doença permanecem os mesmos. “O H1N1 é um vírus de gripe como os outros, que pode causar complicações e ser letal, principalmente entre os grupos de risco. Pessoas saudáveis, sem outras complicações, não sofrerão sintomas maiores que os comuns de gripe: moleza no corpo, dores musculares, estado febril, tosse e etc”, ressalta a médica. Todavia, as crianças, gestantes, idosos e pessoas com doenças de base como diabetes, neoplasias, renais crônicos, soropositivos e asmáticos devem ter cuidados redobrados e, preferencialmente, tomar a vacina.

Embora organismos saudáveis demonstrem boa resistência ao vírus, a médica ressalta certas precauções para os doentes. “Se nas primeiras 48 horas do surgimento dos sintomas da gripe, a pessoa sentir dificuldades respiratórias, aquilo que chamamos ‘cansaço no peito’, deve buscar atendimento médico, pois pode estar desenvolvendo a forma mais grave da doença, apesar de, a princípio, não pertencer a nenhum grupo de risco”, alerta Irna. O tratamento dos doentes também segue os mesmos protocolos estabelecidos em 2009, com o uso do Tamiflu até a melhora dos sintomas.

Na maioria dos casos, aqueles que não figuram entre as categorias em observação podem relaxar: o H1N1, em pessoas saudáveis, terá a mesma atuação de um gripe comum. “Se o paciente preferir procurar um posto de saúde, pode fazê-lo, mas sabendo que não há emergência medica nesses casos. A hidratação por via oral, com água de coco, águas ou sucos, o repouso e o uso de medicamentos que tratem os sintomas – à exceção do AAS e dos anti-inflamatórios – em casa devem ser suficientes para mantê-los confortáveis até o fim do ciclo do vírus no organismo”, recomenda.

Apesar disso, a vacinação é recomendada a todos. “As campanhas oferecem anualmente a vacina par os grupos de risco, que não devem se abster em toma-la todos os anos, pois os anticorpos são eliminados pelo organismo nesse período. A vacina é a melhor ferramenta para prevenção da doença. Pessoas fora dos grupos de risco podem encontrar a vacina na rede de saúde particular” orienta a médica.

DIA D

A campanha de vacinação foi antecipada no Pará, iniciando no dia 18 deste mês. Porém, ainda assim, o Dia D, previamente planejado para ser o ponta pé inicial da campanha no Brasil foi mantido no último sábado (30), sendo transformado em um dia de mobilização. E talvez ele sequer fosse necessário, pois a procura pela vacina nos postos de saúde vem superando as expectativas dos profissionais do ramo. “Quem dera a procura pela imunização fosse assim todos os anos. Tivemos um considerável crescimento na procura pela vacinação este ano, talvez devido o noticiário e a antecipação da circulação usual do H1N1, que nunca deixou de estar presente no Brasil desde 2009”, comenta Irna Carneiro.

No Centro de Saúde Escola (CSE) da Universidade do Estado do Pará (Uepa) a procura pela vacina tem sido intensa. A equipe de saúde do CSE contabiliza cerca de uma por minuto. Localizado na avenida 25 de setembro com travessa Perebebuí, em Belém, o CSE, atende de segunda a sexta-feira, de 8h as 12h, e de 13h30 as 17h. Exceto feriados nos finais de semana, até o dia 20 de maio, quando se encerra a campanha de vacinação. 

As doses são aplicadas, exclusivamente, em crianças de seis meses até cinco anos; hipertensos; mulheres em período gestacional; gestantes que tiveram filhos até 45 dias de vida; idosos acima de 60 anos; pacientes com doenças crônicas como asma, diabetes, cardiopatas, mediante apresentação de indicação médica. A vacina é contraindicada a pessoas com alergia grave a ovo. 

Dentre os grupos prioritários, o que teve maior comparecimento no CSE até agora é o de idosos. A pedagoga Eliete Bassalo conta que a vacinação já faz parte da rotina de prevenção.  “Todo ano eu acompanho as notícias e vou aos postos de vacinação. O idoso e as crianças têm que fazer essa imunização, por isso todo ano eu tomo e me previno”. A professora aposentada Lucia Helena Miranda destaca a necessidade de se vacinar. “Essa vacina é importante porque evita vários problemas para quem tem doenças crônicas. Sou diabética, vou fazer 70 anos e é extremamente necessário tomar a vacina”, diz ela.

 

Texto: Fernanda Martins

Fotos: Nailana Thiely