Cursinho pioneiro no Pará atende pessoas trans, negras e moradoras da periferia

Enviado por Anônimo (não verificado) em Qui, 14/07/2016 - 14:03
Uma abordagem sensível e debates para empoderamento voltados para pessoas socialmente excluídas. A ideia é de um cursinho não só popular, mas formador de pessoas e de incentivo ao pensamento crítico. O (R)existência é um cursinho pré-vestibular que atende a pessoas trans, negras e moradoras das periferias. O Cursinho é uma iniciativa pioneira no estado do Pará e oferece um espaço alternativo de diálogo e de aprendizado.
 
O (R)existência foi concebido e é coordenado pela professora do curso de Filosofia do Campus XI da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em São Miguel do Guamá, Lívia Noronha. Criado em maio deste ano, o Cursinho é gratuito e funciona somente aos sábados e domingos, para poder atender pessoas que não têm disponibilidade para participar de aulas durante a semana.
 
O Cursinho funciona em regime colaborativo e conta com a participação de acadêmicos e professores que ministram aulas sobre as disciplinas e assuntos abordados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dentre as principais demandas do (R)existência, está a doação de alimentos, já que as aulas são ao fim de semana e é inviável que os alunos se desloquem para suas residências, distantes do lugar onde funciona o cursinho.
 
Com a ajuda de parceiros, colaboradores e voluntários, o (R)existência desenvolve as atividades dentro de uma proposta do alternativo e do popular como resistência, representado, por exemplo, pelo Instituto Nagentu, o espaço afrorreligioso no qual funciona; pelos debates sobre racismo, gênero e sexualidade; pelo cultivo da empatia; e pela proposta de conscientização e de empoderamento.
 
De acordo com a idealizadora do Cursinho, Lívia Noronha, o (R)existência existe por conta de um demanda, gerada por exclusões sociais no Brasil, em relação aos grupos que foram definidos como público do curso. “Comecei a pensar o cursinho quando vi a preparação em um cursinho para pessoas trans no Rio de Janeiro. Sou feminista negra e pensei no cursinho, primeiramente, voltado para pessoas negras, mulheres trans, e depois ampliei para moradores de periferia. O curso funciona com empoderamento e formação para o Enem, formação para os professores e aos alunos, relativas às vidas desses alunos, abordando temas, como classe, identidade, gênero, raça e sexualidade”, conta a professora da Uepa.
 
 
O cursinho é um espaço pedagógico democrático e aberto, que oferece oportunidade àquelas pessoas que sofrem preconceitos e violências, que têm dificuldade de acesso aos espaços públicos e ao ensino de qualidade. A população trans é uma parcela relevante desses grupos, por conta das violências naturalizadas em relação a essas pessoas. Lívia Noronha identifica que os espaços de ensino não integram, mas reproduzem preconceitos. “As pessoas trans não se sentem acolhidas nos cursinhos regulares. Os professores constrangem e se negam a chamar estudantes pelo nome social. Nós pensamos o conteúdo programático do Enem, mas não contamos a história única. Nós ensinamos a valorização da história desses públicos. Também buscamos referenciais bibliográficos não acessíveis e buscamos identificar essas pessoas na história do nosso país e nas suas realidades”.
 
Um dos estudantes do cursinho é Luís Miguel Ribeiro, 19, membro do Coletivo de Homens Trans do Pará. O estudante conta que a experiência dentro do (R)existência é de pertencimento e reconhecimento, que faz frente aos preconceitos com os quais tem que lidar no cotidiano. “A abordagem é sensível e muito especial, pois se atenta a pessoas como nós, trans, negras, etc. Já tinha estudado em cursinhos aqui de Belém e sofri muito com situações transfóbicas, pois nunca me respeitaram. O (R)existência, além de nos preparar para a prova do Enem, nos estrutura para a vida, nos empodera, nos forma, nos dá conhecimento sobre nós mesmos. Ele é muito importante para visibilidade, pois a cada dia, vamos montando um pedaço a mais de histórias que, sem essa iniciativa, teriam estagnado”, declara o estudante.
 
No segundo semestre, o cursinho continuará com a preparação dos alunos e conta ainda mais com a colaboração, para poder fornecer alimento a eles e arcar com a produção de material didático. Qualquer pessoa interessada em ajudar o projeto pode entrar em contato pela página no Facebook ou efetuar um depósito na conta corrente do Banco do Brasil, Agência: 3702-8, Conta: 26423-7.
 
Texto: Sergio Ferreira Junior/Ascom Uepa
Foto: Isabella Moraes/Cursinho (R)existência