Musculação aumenta qualidade de vida de pessoas com HIV/AIDS

Enviado por Ize Sena em Qua, 11/01/2017 - 14:11
Emagrecimento, corpo definido, força, e melhora na autoestima tem lotado academias. Nelas há uma meta em comum a todos, a chamada qualidade de vida. Na busca por esse objetivo, em Santarém, um grupo de pessoas com HIV/Aids encontrou na musculação bem estar físico e alívio para os efeitos colaterais causados pelos antirretrovirais, medicamentos que controlam e impedem a multiplicação do HIV, vírus causador da Aids.
 
O projeto envolve a prescrição de treinamentos com ganho de massa muscular e treinamentos que combinem força e potência para o bom rendimento do coração, já que devido às alterações no organismo causadas pelo vírus e pelos antirretrovirais, os que possuem a doença ficam mais receptíveis a problemas cardíacos, aumento de gordura no sangue, perda da massa muscular, e alterações na distribuição de gordura corporal.
 
“ O exercício físico, em especial o treinamento resistido (musculação), seria um recurso não farmacológico para tentar reverter ou minimizar esses problemas”, ressalta o doutor em Doenças Tropicais da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Luiz Fernando Gouvêa e Silva.
 
Luiz Fernando coordena o projeto denominado Vivendo com mais Qualidade de Vida (VIQUAVIDA).  Os participantes do VIQUAVIDA são pacientes atendidos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Santarém. Eles são convidados a integrar o projeto ou são automaticamente encaminhados pelos médicos e enfermeiros. Todos os participantes seguem acompanhados por acadêmicos de Educação Física do campus XII da Uepa, em uma academia de Santarém.  
 
Os critérios para participar do projeto são: ter a infecção pelo HIV, se consultar regularmente e tomar a medicação de forma correta.  Os treinamentos ocorrem três dias da semana, as segundas, quartas e sextas, das 17h às 21h.  Os treinamentos são organizados de forma que não fiquem mais que quatro pacientes, simultaneamente, no espaço da academia, pois a intenção é que o acompanhamento com os acadêmicos de Educação Física seja individualizado ao máximo.
 
Gouvêa explica que não há exercícios contraindicados para pessoas com HIV/Aids. “Gosto de relatar que não existe exercício contraindicado, mas pessoas que não podem ou devem realizar algum tipo de exercício. Em nosso grupo de pacientes existem dois que tivemos que adaptar os exercícios, pois apresentam limitações que não permitem a realização de certos movimentos. Desta forma, a contraindicação, quando pertinente, é observada na avaliação que realizamos antes do paciente ingressar no projeto”.
 
 
Ainda de acordo com ele, nenhuma das pessoas atendidas apresentou algum prejuízo no sistema imunológico decorrente da musculação. “Os nossos resultados apontam para melhora da autoestima, da qualidade de vida, da força muscular, da flexibilidade e da composição corporal. Nosso objetivo com o projeto é verificar a influência da musculação na composição corporal, na força muscular, na flexibilidade, na qualidade de vida, na imagem corporal e nas variáveis cardiovasculares de pacientes infectados pelo HIV”.
 
Atualmente, o VIQUAVIDA atende apenas cinco pessoas. Há períodos que esse número chega a ser menor, não por falta de profissionais dispostos a realizar os treinamentos na academia, mas sim porque quem tem o vírus se sente receoso em sofrer preconceito. “Observo que o maior problema da adesão ao projeto é o receio da perda do sigilo, quanto à identificação da doença. Infelizmente, a sociedade ainda exclui e desacata essas pessoas quando identificadas no meio onde convivem, fazendo com que elas se isolem da sociedade e, muita das vezes, da própria família. Como sofrem preconceito, o projeto também promove um momento em que se relacionam com outras pessoas”.    
 
O VIQUAVIDA se iniciou em 2009 com a proposta de um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da área de Educação Física, que envolvia a prescrição de treinamento resistido para um grupo de HIV/Aids. Com a conclusão do TCC, tornou-se um projeto de extensão da Uepa, institucionalizado em 2013. 
 
Texto: Renata Paes