Dia Nacional de Libras marca lutas do movimento surdo

Enviado por Dayane Baía em Ter, 24/04/2018 - 17:36

Ontem, 24 de abril, foi comemorado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Há 16 anos, nesta mesma data, a língua foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão da comunidade de pessoas surdas no Brasil. Para marcar as lutas e conquistas do movimento surdo, a Universidade do Estado do Pará (Uepa), promoveu um evento na manhã dessa terça, 24, no Campus XIV – Moju, o I Seminário em Comemoração à Lei de Libras (I Secomllibras). 

 

A programação trouxe o debate sobre a educação de surdos e apresentou também o Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagem e Estudos Surdos (Gpeles), primeiro que envolve todas as áreas de graduação no Campus. A coordenadora do campus e do grupo, Cintya França, destacou a importância do fomento à pesquisa no município. "Buscamos abranger todas as áreas dos cursos ofertados no Campus. As linhas de pesquisa tratam de forma geral a Educação e a Linguagem, e de maneira específica, os Estudos Surdos", afirmou. O grupo possui quatro linhas de pesquisa: Estudos Surdos em Educação; Prática e Formação Docente na Educação de Jovens e Adultos; Linguagem e Educação Linguística; e Ensino da Matemática para Alunos com Deficiência.  

 

Durante o evento, o grupo compartilhou uma pesquisa em andamento sobre o ensino da matemática para surdos no Moju. "Percebemos alguns detalhes que mostram que os docentes ainda precisam acompanhar a legislação. A escola busca a inclusão, mas o professor ainda não consegue fazer as adaptações necessárias. O surdo é imagético, então são necessários recursos visuais, metodologias diferenciadas para que o aluno não fique preso à busca do entendimento oral", explicou Cintya. 

 

A lei de Libras é o instrumento que garante o uso e a difusão da língua no país. O evento teve a participação de dois professores convidados, que cursaram o Mestrado em Educação na Uepa, e que abordaram a importância da língua para o fortalecimento da identidade do surdo"A lei é um aspecto da luta pelas diferenças linguísticas e do movimento social. Mais do que a questão biológica, é necessário que o surdo tenha um papel político. A principal violência que a comunidade sofre é a linguística. Não reconhecer a língua do outro é não reconhecer a identidade do outro", declarou Wadma Pereira, da Universidade Federal do Pará, em Cametá. Em sua fala, ela abordou o contexto de resistência na região do Baixo Tocantins; a luta de surdos ribeirinhos, quilombolas e indígenas em busca de melhores condições de vida; e o movimento social em surdez.  

 

Hermínio Tavares, do Instituto Federal do Pará, em Belém, foi o outro palestrante da manhã. Ele explanou sobre o processo de construção de identidade a partir da língua de sinais. "Quando a política separa alunos surdos, não aceita a escola bilíngue, está toda estruturada sobre a língua portuguesa, exige a oralização dos surdos, ou de maneira geral esperando que ele se comporte como ouvinte, aprenda e interaja como tal, ela está dizendo indiretamente a eles 'vocês só podem ser isso ou aquilo'. Precisamos lutar por uma política e uma estrutura curricular e didática que favoreça aos surdos a transformação de suas identidades, de modo que eles possam ser o que quiserem", enfatizou Hermínio. 

 

Para o pesquisador, a aceitação da Libras não encerra uma série de negações que a própria política de inclusão projeta sobre os surdos tanto nEducação Básica como no Ensino Superior. O reconhecimento da língua traz uma série de obrigações que não estão contempladas nas políticas públicas de educação interferindo diretamente naquilo que os surdos acreditam que podem vir a ser, ou seja identidades que podem assumir para si.  

Para saber mais e entrar em contato com o Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagem e Estudos Surdos, envie um e-mail para gpelesuepa@gmail.com 

 

Texto: Dayane Baía

 

Fotos: Gpeles