O universo acadêmico é feito de diversos caminhos rizomáticos e na Universidade do Estado do Pará (Uepa) não seria diferente. O Centro de Ciências Socieais e Educação (CCSE) é um lugar onde experiências científicas, políticas, sociais, culturais e artísticas acontecem nos corredores da Instituição. Pessoas caminhando de um lado a outro com os pensamentos incendiados pelas pesquisas em andamento nas suas atuações profissionais. Alunos são cientistas e cientistas são alunos. O ensino e o aprendizado se provocam a cada passo avante, expandindo a profundidade do pensamento crítico com o objetivo de oferecer resultados que possam subsidiar transformações e atuações sociopolíticas dentro da sociedade a qual está inserida.
A cultura acadêmica tem como finalidade educativa reconstruir de maneira autônoma a empíria praticada por pesquisadores, orientando de forma contextual a prática acadêmica dentro da sociedade. O objetivo é desenvolver narrativas científicas sobre o papel indispensável da ciência. Nesse contexto, a Uepa disponibiliza recursos e estruturas para o desenvolvimento da carreira acadêmica, possibilitando condições de trabalho e de pesquisa que afetam de forma positiva as práticas de produção de conhecimento científico por meio de incentivos financeiros como por exemplo: bolsas de extensão, iniciação científica e monitoria, além dos programas de Mestrado e Doutorado em diversos campos acadêmicos.
É preciso olhar para o ambiente universitário para além da sala de aula. Há um fluxo de atividades que ultrapassam os muros da Universidade e que possibilitam o desenvolvimento profissional por meio da atuação de campo e da teoria. E dessa maneira, colocar no radar a sociedade que tanto precisa ser alcançada pela atuação acadêmica. "Isso dá para a universidade uma outra cara, porque as pessoas olham para o ambiente acadêmico como uma questão de ensino por meio das aulas, por isso eu digo para os meus alunos que eles são cientistas em formação", ponderou o vice-reitor da Uepa.
A pesquisa de Robson Nascimento surgiu por meio da experiência aborvida na iniciação científica no projeto de Chagas, onde teve acesso a relatórios sobre a violência urbana em alguns bairros da cidade de Belém. A motivação pela temática nasceu pela vontade de contribuir com outro olhar crítico sobre as informações adquiridas em relatórios parciais sobre o bairro da Terra Firme, espaço mais populoso de Belém. "A informação acaba sendo um instrumento de poder e cabe a nós saber a nossa função dentro de uma sociedade" afirmou o pesquisador e aluno da Uepa que foi aprovado, recentemente, no mestrado.
Na visão do discente, as informações encontradas nos relatórios sobre a Terra Firme precisavam ser desenvolvidas e ampliadas, portanto, o aluno realizou um trabalho de campo e teórico que permitiu a concepção de um levantamento bibliográfico a partir de conceitos geográficos sobre territorialidade, temporalidade, criminalidade e de espacialização usados para a criação das manchas criminais, chamadas de "hot spot" de homicídios, que ocorrem no bairro que abriga um importante corredor científico da capítal paraense.
O espaço urbano é formado por um entrelaçado complexo de relações socioculturais, políticas, espaciais e econômicas que fomentam desigualdades a partir das relações de poder dos agentes sociais que se estabeleceram históricamente nesses espaços. A pesquisa propõe por meio de conceitos do campo científico da Geografia a fragmentação da Terra Firme em cotas altimétricas. A pesquisa faz uma união entre as áreas da Cartografia e da Geografia, a partir do conceito de cotas altimétricas, que consiste em desenvolver dados sobre a marcação do nível ou altitude do terreno de uma região específica a partir do nível do mar.
A intenção é compreendeer o processo de ocupação do bairro para analisar a dinamicidade do terreno físico e, consequentemente, simbólico da presença da violência a partir dos aglomerado de ocupação de residências subnormais e a renda per capita das famílias que residem no espaço para alcançar um diagnóstico crítico e profundo sobre o local selecionado como objeto de estudo.
É perceptível dentro do contexto belenense encontrar lugares em que a violência está atrelada ao processo de urbanização e a necessidade da presença da comunidade científica para produzir pesquisas que possam oferecer resoluções para mitigar as mazelas que atingem as comunidades inseridas nesses espaços. Entretanto, é necessário que a pesquisa possa dialogar com a comunidade para além da teorização bibliográfica. "A Unidade Pró-Paz de policiamento criada na Terra Firme contribuiu para o aumento dos confrontos entre policiais e bandidos, além da sensação de estarmos a mercê de uma tragédia maior. Por causa disso, penso que nós aqui do bairro precisamos de projetos que trabalhem a arte ou a cultura como medidas preventivas, senão o problema da violência daqui passará a acontecer dos dois lados, seja do Estado ou da criminalidade", comentou o morador Pedro Tavares sobre o bairro.
O contato com a monografia de Robson estimula o questionamento sobre como levar para o campo da ciência temáticas de relevância pública à sociedade em geral. Além disso, criar abordagens que possam manifestar resoluções e subsídios para atuações práticas e críticas que não fiquem engessadas dentro do ambiente acadêmico.
*a pesquisa será disponibilizada no acervo digital da Uepa em breve.
Texto: Daniel Leite Jr
Foto: Nailana Thiely