Pesquisa estuda casos de Leishmaniose no Amapá

Enviado por Letícia Aleixo em Seg, 07/10/2019 - 08:00
 
Leishmaniose é uma doença infecciosa causada por protozoários parasitários do gênero Leishmania e transmitidos pela picada de determinados insetos. Com o objetivo de conhecer a diversidade de espécies de Leishmania causando doenças nas pessoas do Estado do Amapá, a  Dra. Ariely Nunes Ferreira de Almeida, professora da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), realizou a pesquisa de doutorado “Etiologia da Leishmaniose Cutânea no Estado do Amapá, Brasil”. 
 
O doutorado faz parte do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária da Amazônia (PPGBPA) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em parceria com o Instituto Evandro Chagas (IEC). A tese foi orientada pela Dra. Lourdes Maria Garcez, professora do curso de Biomedicina da Uepa e orientadora/professora permanente do PPGBPA, além de pesquisadora do IEC. Ela possui doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), na área de concentração em Biologia da Relação Patógeno Hospedeiro. 
 
O primeiro passo da pesquisa foi escrever um projeto para captar recursos, depois aprovar o protocolo de pesquisa no comitê de ética e na Pós-Graduação da Uepa. Feito isso, foi realizado um curso de boas práticas clínicas com os médicos do hospital utilizado, logo depois foi iniciado a coleta dos exames, a emissão do diagnóstico e a análise dos resultados. As pesquisadoras examinaram 38 pessoas de diferentes municípios. 
 
“Nós fizemos o curso, começamos o trabalho, os pacientes que aceitavam participar permitiam fazer biópsia, o material era mandado para o Instituto, a gente fazia os testes e as análises moleculares avançadas, fazendo sequenciamento, que é uma técnica que observa o DNA e compara com outro DNA para poder chegar na espécie de Leishmania”, disse a pesquisadora Lourdes.
 
Amostras de pele de lesão de Leishmaniose Cutânea foram coletadas de indivíduos com a doença no Centro de Referência em Doenças Tropicais do Amapá (CRDT-AP) e as análises moleculares foram realizadas no Laboratório de Epidemiologia das Leishmanioses (EpiLeish) e Centro de Inovação Tecnológica (CIT) do IEC, em Ananindeua/PA.
 
O trabalho mostrou que a espécie resistente no Amapá predominante era a Leishmania Guyanensis, transmitida pelo inseto que é conhecido como tatuquira no Pará. De mais importante que a professora Lourdes destacaria foi a descoberta da extensão geográfica da Leishmania Guyanensis nos municípios de Mazagão, Porto Grande, Serra do Navio, Laranjal do Jari, Tartarugalzinho, Oipaoque, Santana, Calçoene, Pedra Branca do Amapari e Ferreira Gomes, no Amapá.
 
“Tem sete espécies de Leishmania no Brasil, será que no Amapá tem as setes? Nós não sabíamos, nós tínhamos a notícia de poucas, talvez de três. O problema que a gente tinha é que não conhecíamos, não sabíamos a diversidade de espécies e ao conhecer nós descobrimos que a espécie predominante lá era resistente ao medicamento e algo deveria ser feito”, explicou a professora Lourdes. 
 
O problema, segundo a pesquisadora Lourdes, era que das setes espécies existentes no Brasil, algumas produzem quadros mais graves e até tem uma resistência maior ao medicamento. “A Leishmania Guyanensis é a espécie mais resistente ao medicamento de primeira escolha em todo Brasil, que é o Glucantime. Então, o problema era a gente não saber de uma informação importante para tomar decisões para a saúde pública”,disse Lourdes. 
 
Uma das decisões seria usar um medicamento que o parasito realmente fosse mais sensível a droga, porque o que as pesquisadores observaram no Amapá era que as pessoas sofriam muito quando tomavam a medicação, tendo muito efeito colateral, ocasionando até quatro mortes no ano de 2017. Em alguns casos, foi confirmado que a toxicidade do medicamento estava provocando esse estado de doença. 
 
“Você já está doente porque  tem lesões na pele e toma o medicamento e ainda adoece mais, sente dores no corpo, mal estar, enjoo por causa do uso do remédio, porque ele é tóxico, e para piorar se a espécie de Leishmania que você tem for resistente a ele, você precisa usar o medicamento mais tempo, porque não cura e as chances de ter problema são maiores”, ressaltou a professora Lourdes. 
 
A partir dos resultados foi identificado cinco espécies de Leishmania simpátricas no Amapá: Leishmania (Viannia) guyanensis, Leishmania (Leishmania) amazonensis, Leishmania (Viannia) naiffi, Leishmania (Viannia) braziliensis e Leishmania (Leishmania) infantum.
 
Devido a esses resultados científicos foi possível fornecer subsídios epidemiológicos a Superintendência de Vigilância em Saúde do Governo do Estado do Amapá, que atualizou o protocolo terapêutico com a indicação da Pentamidina como droga de primeira escolha para o tratamento da Leishmaniose Tegumentar no Amapá.
 
Além disso, a pesquisa traz o primeiro relato da espécie Leishmania Infantum causando lesão cutânea atípica no Amapá. O Estado é o quinto do Brasil a registrar caso de LC por Leishmania Infantum. Fato que gera um alerta aos profissionais de saúde quanto ao pleomorfismo da LC e a necessidade de atenção ao diagnóstico correto e tratamento precoce da doença. Indica ainda, um alerta à vigilância epidemiológica da Leishmaniose visceral humana no Amapá, a fim de evitar a progressão da forma mais grave e letal das Leishmanioses.
 
Os resultados da tese permitiram ainda a inclusão do Amapá como centro co-participante no “Estudo de Eficácia e Efetividade da associação Miltefosina e GM-CSF (fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos) no tratamento da LC causada por Leishmania braziliensis e Leishmania guyanensis”.
 
A Dra. Lourdes acredita que a maior contribuição é que o conhecimento gerado neste trabalho permite que uma ação do sistema público de saúde favoreça as pessoas que estão doentes. “Graças ao conhecimento gerado nesse trabalho, as pessoas portadores de Leishmaniose vão sofrer menos, vão ter mais chance de cura mais rapidamente. Quem tem Leishmaniose no Amapá vai receber um tratamento mais eficaz por causa desse trabalho”, explicou a professora. 
 
 
Texto: Letícia Aleixo com informações de Ariely Nunes Ferreira de Almeida
Foto: Ariely Nunes Ferreira de Almeida