Estudo, em Marabá, ajuda no combate à comercialização ilegal de madeira e carvão

Enviado por Ize Sena em Sáb, 14/11/2020 - 16:30
Com o objetivo de combater práticas não sustentáveis, como o comércio ilegal de madeira e carvão vegetal na Amazônia, foi desenvolvida, no Campus VIII da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em Marabá, sudeste do Estado, a pesquisa intitulada Descrição anatômica de madeira e do carvão vegetal de espécies florestais nativas da Amazônia como subsídio para a fiscalização. O trabalho tem como primeira autora a engenheira florestal Celine Perdigão, e fez parte da iniciação científica do também engenheiro florestal Marcelo Mendes, ambos formados pela Uepa em Marabá, sob orientação do professor doutor Luiz Eduardo Melo.
 
A colheita de espécies florestais ameaçadas de extinção é proibida por legislações federais ambientais, mas identificar quais das espécies tem este status é um desafio. Por isso, a pesquisa contribui com a construção de um banco de dados com informações sobre espécies de vegetais da região, o que facilita a triagem em casos de comércio ilegal, por conseguir diferenciar espécies protegidas das que podem ser comercializadas.
 
“Os resultados da pesquisa são fantásticos e animadores, acredito que é um grande passo em direção à sistematização do controle do comércio de carvão vegetal na Amazônia. A partir disso, será possível estabelecer protocolos, matérias e informativos que possibilitem fiscalização, diminuindo assim práticas ilegais que causem degradação e desflorestamento”, afirma o discente de engenharia florestal na Uepa, Marcelo Mendes, um dos coautores da pesquisa.
 
Segundo o professor da Uepa, Dr. Luiz Eduardo Melo, que também é coautor do estudo, foram analisadas as características anatômicas da madeira e do carvão de três espécies florestais importantes da Amazônia - a castanheira, seringueira e mogno - em comparação com o eucalipto, considerado a melhor madeira para carvão vegetal. A pesquisa evita que espécies em risco de extinção sejam usadas neste comércio.
 
IDENTIFICAÇÃO
 
Celine explica que a metodologia utilizada foi a análise anatômica de espécies e de densidade da madeira e do carvão vegetal. “As amostras de madeira coletadas foram divididas em três partes (subamostras), para análise anatômica da madeira, para análise anatômica do carvão e para análise da densidade da madeira e do carvão. As descrições anatômicas da madeira e do carvão vegetal seguiram as recomendações do Comitê IAWA e a densidade da madeira e do carvão vegetal foi medida por métodos hidrostáticos baseados em imersão em água, conforme descrito na NBR 11941, com modificações para o carvão vegetal”.
 
“Fornecemos subsídio para que os fiscalizadores façam essa diferenciação. Consideramos que os resultados da pesquisa têm uma contribuição direta no combate ao comércio ilegal. Os agentes governamentais podem usar nossos resultados para a identificação de carvão vegetal possivelmente ilegal e para basear políticas públicas”, ressalta o professor.
 
Ressalta-se que, segundo o egresso da Uepa, o trabalho não criminaliza o uso do carvão vegetal, tendo em vista que a utilização é benéfica, entretanto, deve ser usado de forma sustentável e com respeito às espécies preservadas e ameaçadas. Para Celine, "é de suma importância desenvolver uma visão socioambiental mais sensível para compreender que papel eu desenvolvo dentro da cadeia produtiva do carvão vegetal na Amazônia e assim não contribuir com o comércio ilegal. 
 
RECONHECIMENTO 
 
O estudo, coordenado pelo Laboratório de Ciências e Tecnologia da Madeira da Uepa, em Marabá, é fruto de uma parceria interinstitucional entre pesquisadores do Pará, Santa Catarina e Minas Gerais e resultou em um artigo que será publicado, até o fim do mês, em um importante periódico internacional, o “International Association of Wood Anatomists” (IAWA Journal), classificado pelo Capes Qualis como A3.
 
A pesquisa também é parte do trabalho de conclusão da especialização da primeira autora Celine Perdigão que, atualmente, conclui a pós-graduação em Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA).
 
PREMIAÇÃO
 
Marcelo Mendes, que foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), foi contemplado com o prêmio “Prof.ª Odete Fátima Machado da Silveira, de Ciências Exatas, da Natureza, da Terra e Engenharias”, em 2019, na categoria iniciação científica. 
 
Sob orientação do professor doutor Luiz Eduardo Melo, Marcelo se emocionou ao receber a premiação. “Foi um reconhecimento do nosso esforço. O que mais nos motiva é a certeza de que o nosso trabalho está no caminho certo e que devemos fornecer mais informações para a conservação da nossa terra de ricas florestas fecundadas ao sol do equador”, ressalta.
 
Texto: Giovanna Abreu (SECOM), com colaboração de Marília Jardim/Ascom Uepa
Fotos: Celine Perdigão, Luiz Eduardo Melo e Marcelo Mendes