Finalista da Medalha Serafim é egresso da Uepa

Enviado por Guaciara Freitas em Ter, 09/03/2021 - 13:46

No próximo dia 15, quando o Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos (CiFEFiL) divulgar o ganhador da Medalha Serafim da Silva Neto de Destaque em Linguística, conferida a um dos três finalistas, entre eles estará Bruno Gomes. Linguista de 32 anos, o primeiro da região Norte a chegar tão perto de receber a condecoração nacional mais tradicional da área, Bruno foi selecionados entre 31 indicados com uma trajetória de produção acadêmica digna da honraria. No caso de Bruno, essa trajetória está relacionada ao que ele define como “uma história de amor com a Universidade do Estado do Pará (Uepa)”. Amor traduzido em declarações como essa: “grande parte do que eu sou hoje, devo à Uepa, porque lá as pessoas viram em mim, um brilho que eu mesmo não via”.

Com um tempo de vida menor do que o percurso de produção acadêmica dos concorrentes, quando ingressou no curso de Graduação em Letras da Uepa, no Campus VII, em Conceição do Araguaia, Bruno não queria nada além de ser professor nas escolas públicas do município de Rondon do Pará. “Eu já dava aula, mas me cobravam o diploma, então eu pensava: ‘no dia em que eu tiver um diploma, vou morrer dando aulas aqui no município’”, relembra. A mudança nos rumos da vida que ele planejava ocorreu quando as professoras começaram a dizer para ele que um dia ele estaria ali, na Universidade, como professor.

Atualmente, Bruno Gomes é docente do Centro Universitário Anhanguera Pitágoras Ampli, em São Paulo. Mas, a profecia das mestras estava certa. A primeira experiência dele como professor de nível superior foi na Uepa, no mesmo campus onde cursou a graduação. Quando se aproximava o período da formatura, a então coordenadora do Campus, professora Élida Helena, o aconselhou a ingressar em um Mestrado, para ter condições de concorrer a uma vaga em concurso e assim ele fez. Passou no concurso para professor aos 22 anos e na seleção do Mestrado em Linguística, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), onde obteve o primeiro lugar, motivo pelo qual teve de desligar-se do cargo público para receber uma bolsa de estudos.

Percurso acadêmico

Uma trajetória marcada pela celeridade na finalização dos processos acadêmicos coloca Bruno Gomes no Ranking Brasil, o Livro dos Recordes Brasileiros, como a pessoa a concluir o Doutorado em Letras em menor tempo no país, em um ano e três meses, entre 2015 e 2016. E esse não é o único prêmio no currículo de 57 páginas, registrado na Plataforma Lattes. Na sessão de Prêmios e Títulos, há seis premiações do Ranking Brasil, entre outras. Nada de excepcional, na autoavaliação de Bruno, que mesmo quando não tinha tanta familiaridade com as demandas de uma vida de cientista, escreveu o primeiro trabalho, o de Conclusão de Curso, no segundo ano da graduação. Ainda faltavam dois anos para concluir a graduação em Letras e o TCC já estava pronto para ser defendido, o que não foi permitido, em razão da obrigatoriedade de concluir a carga-horária de estágio supervisionado antes da defesa. “Eu fiz meu TCC nas férias. Aproveitei o tempo, vi outros trabalhos, para saber como era, aí aproveitei as informações que eu já tinha das escolas onde eu trabalhava e percebi que se eu escrevesse dez páginas por semana, eu terminava tranquilo, em um mês”, assim explica como abreviou as coisas.

A orientadora de Bruno no curso de graduação na Uepa, Denise Ramos, lembra que acompanhou o aluno durante os quatro anos de curso, e “percebia sua competência nas apresentações de Seminários, assim como, nas realizações das avaliações, um verdadeiro aluno Nota 10. O que me levou acreditar que aquele rapaz iria brilhar profissionalmente”, afirma professora Denise. Ela faz parte de um grupo de "amizades duradouras", como conta Bruno, que ao falar da professora lembra o quanto a confiança que ela depositou nele foi importante para que seguisse em frente. "Ela é minha madrinha, foi como uma mãe para mim, foi ela que me deu meu anel de formatura".

A experiência profissional de Bruno como professor atravessa todos os níveis de ensino, desde a Educação Infantil até a Pós-Graduação, passando inclusive por cursinhos pré-vestibular. Além de atuar na docência, ele também é pesquisador, assessor acadêmico e escritor. E nesta última função afirma ter experimentado alguns momentos marcantes, como quando lançou o livro Pesquisas no Contexto Acadêmico: Multidisciplinaridade e Metodologias Ativas em Foco, na Bienal de São Paulo. “Eu tenho 33 livros lançados, mas o que mais me orgulha e emociona é levar comigo o meu povo, o povo do Norte, de Rondon, do Tocantins, para todos os lugares onde eu chego, porque eu digo o quanto nós temos gente talentosa, competente, na nossa região e nas nossas instituições”.

Dentre a produção bibliográfica, Bruno revela que o "xodó da vez" é Mago Betuxo e a Bolha de Sabão, o primeiro livro Infantil, voltado para crianças em tratamento no Hospital de Tocantins. “Para fazer esse livro, deixei um pouco a discussão teórica de lado e fui para uma prática de literatura como fonte terapêutica e foi muito gratificante”, explica o autor.

Ser Bruno Gomes

“Eu não sou inteligente, sou disciplinado”; “Todos os lugares por onde eu passei, deixei um legado e grandes amigos”; “O que eu quero é trabalhar e ser feliz, estar num lugar onde eu possa fazer minhas coisas”; “Quando eu começo a sentir que estou me aproximando de uma zona de conforto, começo a me sentir sufocado”; “Da minha família, eu sou a única pessoa com nível superior, mas inteligente mesmo é minha mãe, que nos criou fazendo artesanato e é uma das mulheres mais inteligentes que eu conheço”. Nesse conjunto de afirmações Bruno deixa pistas sobre quem é e sobre como vê o mundo. Ele acredita que a origem humilde e o fato de ser filho de uma família cheia de limitações faz com que ele tenha empatia e dê valor a tudo que conquistou, principalmente, às pessoas que fazem parte de sua caminhada, como a professora Shirley Bessa, que era assessora pedagógica na Uepa, Campus VII, quando ele passou da condição de aluno a de professor. "Professora Shirley me ajudou muito, me ensinou muita coisa".

O filho de 'dona' Ivanete é movido pelo que está por vir e não pelo que já fez, por isso mostra-se animado com a possibilidade de lançar, ainda este ano, um livro aprovado pelo Conselho da Universidade de Harvard e com a possibilidade de ter sua história de vida transformada em uma peça de teatro ou em audiovisual para plataformas streaming. “Meu amigo Ubiratan Vieira tem conversado comigo para roteirizar minha história, vamos ver o que vai sair”, comenta com expectativa. “São sonhos que movimentam a gente e a Uepa me ajudou a sonhar”.

Serviço

A votação aos finalistas da Medalha Serafim estão abertas ao público. Para votar, clique aqui

 

Texto: Guaciara Freitas (Ascom Uepa)

Foto: Bruno Gomes (Acervo Pessoal)