Violência doméstica é tema de pesquisas de aluna da Uepa

Enviado por Fernanda Martins em Sex, 11/03/2022 - 12:51

Tags

 

“Ele me deu soco, batia com o punho na minha cabeça, sempre se preocupou em bater nos lugares que não ficassem muito marcados. Eu ficava com um ‘galo’ na cabeça e poucas marcas no corpo. Ele batia em lugares que sabia que eu ia ficar vestida e não ia dar para ver”, relata Laura Avelar (nome fictício, para preservar a identidade da vítima), sobre a primeira agressão física que sofreu do ex-marido após seis meses de casamento, quando ainda tinha 20 anos e cursava Direito, no Maranhão.

Histórias como a de Laura inspiraram a Bacharela em Serviço Social e estudante de Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), Larissa Barradas, a participar academicamente do debate sobre violência doméstica. Seu artigo, intitulado A Mulher na Sociedade de Classes e a Herança do Patriarcado: Uma Análise sobre Violência Doméstica, foi publicado  ano passado.

Com o trabalho alicerçado numa análise dos pilares acerca da temática em voga, a pesquisadora perpassou o senso comum, e foi além: Conhecer e compreender as origens da violência doméstica na sociedade de classes, desencadear esta reflexão e perceber que a agressão contra a mulher é histórica, foram alguns dos intuitos do estudo, além de ser embasado na trajetória de inserção das mulheres num cenário de classes. “Meu objetivo é as pessoas compreenderem que esse processo é histórico, político, econômico, de classe e tem duas diferentes nuances a partir do contexto e cultura em que se insere. Muitas de nós sabemos que há um histórico de luta das mulheres para termos o espaço – mesmo que ainda restrito – que temos hoje, mas não conhecemos o caminho que foi traçado e o quanto essa luta foi e é importante para as nossas lutas atuais”, declara.

Assim como as lutas femininas observadas no estudo, Laura também enfrentou a dela: suportou, durante cinco anos, um ciclo saturado de agressões física, moral e psicológica – sendo esta a mais frequente. “Eu sempre tinha ideia de que eu era feia, incapaz, que ele era a melhor escolha que eu poderia ter na vida, que eu não ia conseguir nada se eu me separasse dele”, afirma, ao descrever o que sentia no período em que era violentada. Hoje, com 36 anos, formada e livre de toda opressão que vivenciava, ela ministra palestras para mulheres sobre violência doméstica: “Eu explico a lei em si, os direitos delas, as cinco agressões, porque tem mulher que sofre agressão e não sabe. Muitas não sabem que vivem e acham que é normal. A minha meta mesmo é fazer com que as mulheres acreditem nelas, antes de acreditar no Estado. Acho que é você acreditar em si mesma, se amar, porque a pior agressão que existe é eles tirarem o amor-próprio que a gente tem. Eles fazem com que a gente deixe de se amar e deixe de se ver, e isso foi tirado de mim, na época.”

Ao passo que a advogada alerta e ajuda outras mulheres a se desvincularem de relacionamentos abusivos e explica, nas palestras que desempenha, os direitos que são concedidos a elas, Larissa defende: “A violência é histórica, e meu objetivo é que outras mulheres possam compreender também, e continuar estudando, pesquisando e descortinando aquilo que insiste em ficar oculto, não por acaso, mas propositalmente, para nós. Repito: estudar, pesquisar, debater, falar e ouvir outras mulheres, outras pesquisas é importante, e extrair novos olhares sobre a própria pesquisa é desafiador, mas é enriquecedor”.

O desejo de discutir sobre gênero surgiu quando a discente de Ciências Sociais ainda estava na primeira graduação. Num primeiro momento, seu olhar era direcionado para os estudos de sexualidade, mas, em 2018, no último ano do curso de Serviço Social e estagiando em um Centro de Referência e Assistência Social (Creas), a estudante teve contato com diversas violações de direitos – entre elas a violência doméstica – e decidiu, então, adotar o assunto em questão como nova vertente de pesquisa. “Essa convivência diária com esses casos me estimulou a começar a estudar sobre o assunto que, inclusive, foi tema do meu TCC”, informa. Há três anos, quando ingressou na Uepa, passou a integrar o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Feminismos, Gêneros e Sexualidades (Gefes), onde deu continuidade às pesquisas e estudos.

O artigo de Larissa encontra-se no livro Meninos Vestem Azul e Meninas Vestem Rosa? Construção de Identidades na Amazônia, divulgado em 2021, numa parceria entre o Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE) da Uepa e a Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa). Tendo como organizadoras do projeto, as pesquisadoras Lana Claudia Macedo da Silva e Izabel Cristina Borges Corrêa Oliveira, a obra é resultado dos estudos e pesquisas elaborados pelo Gefes.

 

Texto: Thayssa Nobre (Ascom Uepa)

Foto: Elg21/Pixabay