Universidade, Democracia e Movimentos Sociais é o tema da XXV Semana Acadêmica do Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE), da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e baseou a Conferência de Abertura, proferida pela Profª Drª Zélia Amador de Deus. Com inscrições gratuitas, o evento iniciou hoje, 9, nos turnos da manhã, tarde e noite, com transmissão no canal do Centro no Youtube. Voltado à comunidade interna – alunos, professores e técnicos – e externa da Uepa, a programação focaliza a importância das Universidades na Amazônia e seu papel na defesa da democracia.
A abertura cultural abriu os trabalhos e teve a participação de Adson Baia, aluno do Curso de Licenciatura em Música. Em seguida, a mesa oficial de abertura teve as presenças de Clay Chagas, reitor da Universidade; Anderson Maia, diretor do CCSE; Acylena Coelho Costa, coordenadora do Planetário; e de Ceila Moraes, coordenadora do curso de Pedagogia.
Em sua fala, Zélia Amador ressaltou a calamidade que atinge os Yanomami, o que ela definia como uma forma de preconceito. “Aquele (racismo) ligado a cor da pele é construído a partir da colonização. Tem experiências de racismo que podem se basear na cultura ou na religião, mas no caso do continente americano, se considerou as diferenças entre os povos nativos e os colonizadores. As primeiras vítimas do racismo com base no fenótipo foram os povos indígenas, que ainda estão ainda sofrendo racismo.”, afirmou. Para além disso, a professora define uma mais perigosa do racismo.
“Estamos acostumados a pensar no racismo pessoalizado. Mas tem outras formas, ninguém precisou chamar de macaco ou índio safado aos Yanomamis em Roraima, mas eles estão sendo mortos por causa de racismo institucional, que passa por dentro das regras do Estado. Esse tipo de racismo não apenas ofende o indivíduo, mas mata”, avaliou Zélia.
O papel da Universidade na articulação de conceitos também foi debatido pela professora. “Muito do que aprendemos hoje foi observado a partir das experiências dos movimentos sociais. O racismo institucional, por exemplo, veio a partir de membros do grupo Pantera Negra”, relatou. Para ela, o crescimento recente nos estudos de diversas minorias se deve ao acesso delas às instituições de ensino. “Por exemplo, os estudos feministas chegam nas universidades quando as mulheres chegam às universidades. Da mesma forma, quando as pessoas negras chegam dentro das universidades, elas vão trabalhar com assuntos que antes não trabalhavam.”, resumiu.
“O racismo como causador de injustiça social e de mortes não era tratado dentro das universidades. O assunto chegou à medida que os corpos negros chegam à universidade. Indígenas estão chegando agora. Não tem que ter vergonha de ocupar esses espaços. Cotas são recentes, porém ainda enfrentam resistência. Uma aluna na USP me procurou desesperada, pois estava sofrendo discriminação. Eu disse pra ela ‘anda, desfila, só o teu corpo já é revolucionário. Tua presença já está falando, não precisa falar nada", disse Zelia.
A Semana segue até amanhã. Além das programações culturais, durante os dois dias também haverá rodas de diálogos e mesas para discutir questões ligados à concepção da Universidade, os movimentos sociais e o racismo, como as palestras Educação e Combate ao Racismo Religioso no espaço escolar e não escolar, e a Roda de diálogos sobre os Movimentos de Cultura Popular.
Leopoldo Nogueira Junior, membro da comissão organizadora da Semana Acadêmica, acredita que a programação abordará diversos aspectos da universidade e cultura amazônica. “Terá grandes debates gerais em que os alunos, professores e técnicos podem participar, se posicionar. Juntamente com isso, uma vasta programação cultural que vai reunir artistas locais que, além de discutir sobre a cultura popular, vão também apresentar os seus trabalhos”, observou Leopoldo.
Serviço:
Acompanhe aqui o cronograma das atividades.
Texto: Thayssa Nobre (Ascom Uepa)
Foto: Murilo Souza (Ascom Uepa)